Quarta-feira, 02 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 31 de março de 2025
Numa cidadezinha britânica, uma família é surpreendida por um agressivo cerco policial logo nas primeiras horas da manhã. O alvo: um adolescente de 13 anos, Jamie Miller (Owen Cooper), acusado de assassinato.
Aos prantos, o menino alega repetidamente sua inocência enquanto é levado à delegacia local, passando por constrangedores exames de perícia antes de ser submetido a um interrogatório.
Na ocasião, ele é assistido pelo pai, Eddie Miller (Stephen Graham, de “A Thousand Blows” e “O Irlandês”, também produtor e cocriador da minissérie), escolhido como responsável legal. Só então as circunstâncias do crime são reveladas, para o total choque de Eddie.
Dado o requinte naturalista de “Adolescência”, podemos supor que a minissérie se baseia numa história verídica. Jamie é um personagem de ficção, mas representa um fenômeno real e estatístico.
Nos últimos anos, tem-se registrado na Inglaterra um aumento significativo de crimes com armas brancas, sobretudo entre jovens e menores de idade. Quase sempre, esses incidentes envolvem um indivíduo do sexo masculino e um contexto de bullying virtual.
Para os pais dessa era digital, que se veem impotentes diante de padrões de comportamento em constante mudança, a tragédia de “Adolescência” habita seus piores receios. É um tema complexo, que a série aborda sob diferentes perspectivas.
O primeiro episódio mostra o lado do Jamie e sua família, os trâmites da prisão e toda a violência psicológica que acompanha o processo. No segundo, somos introduzidos ao entorno social do acusado: o “mundo cão” do ensino médio, regido por emojis codificados e comentários online.
É um ambiente hostil até mesmo para a dupla de detetives encarregados do caso, Luke Bascombe (Ashley Walters, de “Top Boy”) e Misha Frank (Faye Marsay, de “Game of Thrones”).
O terceiro episódio mergulha mais fundo na psique do protagonista, colocando-o frente a frente com a psiquiatra forense Briony Ariston (Erin Doherty, de “The Crown” e “A Thousand Blows”). Tensa, repleta de nuances emocionais, a sessão traz à tona as motivações mais íntimas de Jamie e sua noção distorcida de masculinidade em conflito com a autoestima minada pelas redes sociais.
Ambientado às vésperas do julgamento, 13 meses após os primeiros eventos, o quarto e último episódio concentra-se nas sequelas da família, não apenas imersa em exames tortuosos de consciência, mas também marginalizada pela vizinhança.
Desde já uma das séries do ano, “Adolescência” não apenas se distingue por sua narrativa densa, reflexiva e favorecida por ótimas atuações, mas também pelo uso magistral de planos-sequências – cenas contínuas, sem cortes.
Na TV, o recurso é normalmente empregado em segmentos específicos, restritos, no máximo, a um episódio, como visto em “True Detective”, “West Wing” e “Sherlock”.
Aqui, no entanto, tudo é inteiramente filmado em plano-sequência, sem cortes invisíveis ou truques de edição para dar a ilusão de continuidade, a exemplo do que fizeram em “Birdman” (2014) e “1917” (2019). É o equivalente de “Arca Russa” (2002) no streaming, o drama histórico de Alexander Sokurov, especialmente notório pela complexa execução em uma única tomada.
Coproduzida por Brad Pitt, a série é dirigida por Philip Barantini, que já havia trabalhado com Stephen Graham em “O Chef” (2021).