O contraste iodado, substância utilizada em exames de imagem para facilitar a visualização de órgãos e vasos sanguíneos, passa por uma crise de fornecimento. Diante da escassez do insumo no mercado internacional, o Ministério da Saúde orientou, por meio de um comunicado interno, que os serviços de saúde otimizem o uso do contraste, utilizando-o de forma racionada.
Na nota, o Ministério afirma que a escassez do item é um efeito dos lockdowns decretados na China com o reaparecimento de surtos de covid, o que teria interferido na cadeia de produção das indústrias.
Entre as medidas propostas para racionalizar o uso do contraste iodado, estão a priorização de pacientes com condições clínicas de urgência e emergência, diminuição da quantidade utilizada, aumento da diluição da substância e realização de exames alternativos, como a ressonância magnética e a ultrassonografia.
O Ministério da Saúde afirmou que a aquisição do contraste iodado não é de responsabilidade da pasta e reiterou as recomendações feitas às Secretarias de Saúde até que o fornecimento seja normalizado. Informou ainda que as medidas têm como objetivo reduzir o desabastecimento do insumo no País.
Demanda
Os efeitos desse desabastecimento são sentidos em diversas regiões do Brasil. Segundo Izilda Maris Chiozzotto de Moraes, membro da diretoria do Conselho das Secretarias Municipais de São Paulo, há agendamento de procedimentos apenas para os casos considerados mais graves, mas a situação está longe da ideal.
“Muitas vezes, os exames com contraste são necessários para fechar diagnósticos e dar continuidade aos tratamentos, e isso está paralisado. Corremos o risco de um paciente que até então não era grave venha a ser daqui a alguns meses, pela falta de um procedimento rotineiro que não foi realizado”, explica.
Estoques
Outros Estados também adotaram o remanejamento e racionamento de contraste iodado. As Secretarias de Saúde do Rio Grande do Sul e Paraná informaram, em nota, que estão seguindo a recomendação do Ministério da Saúde para otimizar o uso do produto.
A Secretaria de Saúde de Santa Catarina afirma que vem conseguindo manter seus estoques e realizar empréstimos para unidades filantrópicas. Além disso, “vem buscando a aquisição de forma emergencial, caso seja necessário”.
No Maranhão, que sente os efeitos da escassez desde junho, a Saúde disse trabalhar conforme o Plano de Contingência traçado pela pasta, destinando o estoque disponível ao atendimento dos casos de urgência e emergência.
Em Goiás, que também sofre com o desabastecimento desde junho, a Secretaria de Saúde informou que encaminhou a nota do Ministério da Saúde às secretarias municipais e que “na rede própria da SES, está sendo realizado remanejamento entre as unidades estaduais, até que ocorra a normalização do fornecimento do produto”.
Já a Secretaria da Saúde da Bahia realizou de forma independente a compra de dois tipos do insumo, que já começaram a chegar ao Estado e informou que espera, com a remessa, garantir o fornecimento para a rede estadual e consorciada.
No Amazonas, os procedimentos que exigem a sua utilização têm sido mantidos enquanto a Secretaria de Saúde aplica protocolos de otimização da substância. Já no Pará, o órgão afirmou que “até o presente momento não recebeu oficialmente nenhum relato de falta do referido item no mercado”.
O contraste não é o único produto em falta na rede pública de saúde. Uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) ouviu 2.469 prefeituras e levantou que mais de 80% desses municípios registram a falta de medicamentos. 68% sofrem com a falta de amoxicilina, um dos antibióticos mais utilizados para o tratamento de infecções. Em seguida, no ranking do desabastecimento, vêm a dipirona (65,6%), dipirona injetável (50,6%) e o anti-inflamatório prednisolona (45,3%).