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Ministério Público apura se médico indiciado por lesões durante cirurgia estética em paciente fez mais vítimas em Santa Catarina

Vítima mostra como ficou após procedimento. (Foto: Reprodução)

O médico indiciado por lesão corporal gravíssima durante cirurgias estéticas em uma paciente em Florianópolis, também é alvo de um procedimento de investigação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). O órgão abriu nessa terça-feira (15) a apuração.

O médico se manifestou por nota. Disse que “os processos citados nesta matéria encontram-se sob sigilo processual. Por tais razões, minha manifestação sobre cada caso continuará sendo feita nos autos das respectivas ações”. Ele foi indiciado pela Polícia Civil na noite de segunda-feira (14).

O MPSC esclareceu que vai iniciar a investigação e identificar outras vítimas. A apuração não se restringe a uma pessoa, mas a atuação do cirurgião.

Além do indiciamento da Polícia Civil, que pode resultar em processo criminal e prisão, o médico já enfrentou a Justiça, porém, na área civil.

De sete processos movidos contra ele em Santa Catarina e no Paraná, em quatro foi condenado a pagar indenizações. No caso mais grave deles, indenizou familiares de uma paciente que morreu após lipoaspiração, em 2021.

Indiciamento

O indiciamento partiu de um inquérito. Uma das pacientes que denunciou o médico foi a neuropsicopedagoga Letícia Mello. Ela fez a primeira consulta em janeiro, com intuito de trocar as próteses de silicone e saber mais sobre uma uma técnica de lipoaspiração. O médico também indicou outros procedimentos.

“Disse que poderia tirar a flacidez da barriga. Logo em seguida já tocou no meio das minhas pernas, falou que também poderia ser possível tirar essa flacidez que a academia não tira, e que eu tinha uma depressão lateral” contou.

Segundo ela, ele ainda indicou tirar gordura das costas para colocar na depressão lateral, o que deixaria o glúteo mais redondo.

“Eu fui para procurar um procedimento, acabei sendo encantada por vários outros. Não fui avisada dos riscos que teriam, da quantidade de horas e procedimentos”, relatou a paciente.

Letícia passou por 12 cirurgias no mesmo dia com o médico. Foram 10 horas no centro cirúrgico e 7 quilos de gordura retirados. Concluído o procedimento, ela demorou a ter alta. Passou 11 dias em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada.

“O lado direito paralisado e comecei a ter muita dificuldade com respiração. Recebi seis bolsas de sangue e fiquei muito mal, muito debilitada, muito fraca” disse.

Além disso, conta que começou a “queimar”. “Meu corpo começou a criar bolhas, começaram a aparecer umas secreções. Eu comecei a ficar totalmente queimada na barriga, nas pernas, nos braços, foi subindo para os seios e eu fiquei 20 dias ali, praticamente necrosando”, contou.

Investigação policial

Depois de sair do hospital, em abril deste ano, Letícia fez uma denúncia na Delegacia-Geral da Policia Civil de Santa Catarina. O inquérito, instaurado no mesmo mês, foi concluído na noite de segunda.

A Polícia Civil, ouviu pessoas da área técnica, concluindo que o prazo para a finalização de uma cirurgia de caráter estético tem uma duração limite menor do que Letícia foi submetida. A quantidade de gordura retirada também tem uma quantidade específica, explicou a polícia.

“Nesse caso, o delegado apurou que ocorreu uma passagem do que estava previsto pela doutrina, pela literatura, na questão de tempo e, também, na questão de gordura que foi aspirada da vítima”, explicou o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel.

A lesão corporal grave, prevista no artigo 129 do Código Penal, prevê pena de um a cinco anos de prisão em casos de condenação.

Processos

Embora tenha sido indiciado nesta semana, anteriormente ele já enfrentou a Justiça ao ser processado por pacientes, porém, na área civil. Contra ele foram movidos pelo menos sete processos de indenização por dano moral em Santa Catarina e no Paraná. Quatro vítimas conseguiram a condenação.

No caso mais grave, o médico foi condenado a indenizar a família de uma paciente do Paraná que morreu após uma lipoaspiração. A juíza do caso afirmou que Marcelo foi responsável pelo óbito, que ele fazia propaganda enganosa sobre sua especialidade e foi negligente na cirurgia estética.

A sentença, de 2021, afirmou que ele já tinha condenação prévia por erro médico, fazia procedimentos sem ser especialista nem associado a sociedade brasileira de cirurgia plástica e que operava em clínica onde não havia condições de atender questões urgentes.

O que diz o CRM

Em nota, o Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina informou que apura a conduta do médico em uma sindicância, mas que não pode se manifestar sobre processos em tramitação.

O Conselho Regional de Medicina do Paraná também disse que não pode se manifestar, e afirmou que o cirurgião está regularmente inscrito nos conselhos dos dois estados.

“Hoje eu faço acompanhamento psicológico, acompanhamento psiquiátrico para não entrar em uma depressão e entender que tem um propósito eu estar viva”, disse Letícia. As informações são do portal de notícias G1.

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