Quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de dezembro de 2021
Com a influencer Shantal e a jornalista Samantha, já são cinco pacientes do obstetra que o denunciaram.
Foto: ReproduçãoO Ministério Público de São Paulo ouviu mais três mulheres que relatam terem sido vítimas de abusos cometidos pelo médico obstetra Renato Kalil, duas delas envolvendo violência sexual. Ao todo, cinco pacientes já tiveram denúncias que vieram a público contra Kalil, as primeiras delas por violência obstétrica durante o parto e consultas.
No domingo (12), um áudio vazado de uma conversa íntima mostrava a influenciadora digital Shantal Verdelho acusando o médico obstetra de cometer violência obstétrica durante o parto de sua segunda filha, em setembro de 2021. Nele, a influencer contava para as amigas a experiência ruim que sofreu durante o parto da filha Domênica.
“Demorei para perceber o que tinha acontecido porque na hora do parto eu tava em uma outra dimensão. (…) Foram várias posturas dele muito ruins e acabou sendo horrível meu parto. Se eu mostrar [o vídeo], vocês vão sentar e chorar”, conta a moça para as amigas.
Na terça-feira (14), o Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais (CAOCrim) do Ministério Público de São Paulo pediu uma investigação contra o médico. As suspeitas são apuradas pela Promotoria de Violência Doméstica, que instaurou um Procedimento Investigatório Criminal (PIC), após a divulgação de reportagens denunciando o médico por violência obstétrica e abuso sexual.
Trata-se de um procedimento para apuração inicial dos fatos, recebimento de documentos e atendimento prioritário às vítimas, sem prejuízo de futura reunião de feitos na hipótese de instauração de inquérito policial para investigação de fatos correlatos.
O advogado da influenciadora Shantal Verdelho, Sergei Cobra Arbex, pediu ainda uma investigação à Polícia Civil.
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) também abriu um processo interno de apuração das denúncias da influencer. O Cremesp não deu detalhes da apuração do caso que está promovendo, por sigilo de ofício.
“Ele me tocou de forma sexual”
Uma psicóloga, de 58 anos, que não quis se identificar, conta que em 1992, quando tinha 28 anos, foi atendida por Kalil no pronto-socorro ginecológico do Hospital São Luiz. No dia seguinte, ele ligou para a casa dela, pedindo que ela voltasse ao consultório. Lá, segundo o relato da paciente, ele a tocou e olhou de forma sexual.
A psicóloga diz que se sentiu extremamente desconfortável e o questionou, mas que não havia denunciado o caso até agora porque achou que não seria ouvida. Ela guarda até hoje a receita médica daquele dia porque, mesmo após 30 anos, não esqueceu o abuso.
“Achei estranho. Ele disse que queria saber se eu estava melhor, pediu mais alguns exames, para fazer no laboratório de um amigo dele e que fosse no consultório dele. Quando fui, ele começou a tocar de forma estranha, olhava de forma estranha. Não era um jeito de exame ginecológico, eu sabia que não era, já tinha feito outros. Fui embora, fiquei muito brava.”
Ele também disse que ela precisava fazer mais exercícios, malhar a barriga para ficar mais bonita. “Fiquei aliviada de dizer o que aconteceu, ele me tocou de forma sexual, desnecessária. Ficava me olhando e tocando. Eu tinha 28 anos, mas nunca esqueci.”
Depoimentos ao MP
Até o momento, somente a jornalista britânica Samantha Pearson, correspondente do jornal “The Wall Street Journal” no Brasil, foi ouvida formalmente pela Promotoria de violência doméstica. O conteúdo do depoimento foi mantido em sigilo a pedido dela.
A jornalista afirmou que também sofreu violência obstétrica do médico durante o parto do seu filho. Segundo Samantha Pearson, Renato Kalil acompanhou suas duas gestações. Em uma consulta no começo de 2020, faltando um mês para o parto do segundo bebê, ela ouviu insultos do médico.
“E ele olhou para mim disse: ‘Seu marido é bonitão e se você não emagrecer, ele vai te trair’. Eu me senti super humilhada, essa que é a palavra, ele me fez sentir humilhada várias vezes”.
A repórter também afirmou que o médico disse ao seu marido, logo após o parto, que tinha feito um ponto em sua vagina.
“Ele falava da minha vagina como se eu não estivesse ali. Passei semanas chorando sozinha em casa, sem saber se ele tinha dado mais pontos do que o necessário, com medo de transar, de sentir dor.”
O chamado “ponto do marido” é um procedimento cirúrgico que consiste em mais costuras do que o necessário a fim de reparar o períneo (região que fica entre o ânus e a vagina) da mulher após a realização de um parto normal.
Outras frentes de investigação
No caso da influenciadora Shantal Verdelho, a Promotoria também acompanha o inquérito que foi aberto pela Polícia Civil. Outra vítima que denunciou o médico, Letícia Domingues foi na delegacia fazer um registro de ocorrência contra Kalil. Ela ficou 4 horas prestando depoimento à Policia Civil e deve ser ouvida pela Promotoria nos próximos dias.
Como o recesso do MP começa na segunda-feira, ainda não foi definido o cronograma sobre os próximos depoimentos e diligências.