Segunda-feira, 21 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 31 de janeiro de 2023
O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul divulgou nesta terça-feira (31) uma nota de esclarecimento sobre a série intitulada “Todo dia a mesma noite”, produzida e veiculada pela empresa Netflix, que trata do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, tragédia que completou 10 anos na última sexta-feira (27).
A promotoria disse que emitiu o comunicado “considerando o interesse público e a realidade dos fatos envolvendo um caso ainda sub judice”.
Uma parte dos familiares de vítimas do incêndio também informou recentemente que planeja processar a Netflix após o lançamento da série que retrata o acontecimento. As famílias se queixam da exploração comercial da tragédia pela plataforma de streaming, “que sequer teve a sensibilidade de informá-los que uma série dramática seria produzida”.
Um outro grupo que forma a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de SM (AVTSM) informou que não tem relação com o processo judicial. Em nota, a Associação disse que estava ciente de que a produção estava sendo realizada com base nos personagens do livro “Todo dia a mesma noite: a história não contada da Boate Kiss”.
A tragédia, que provocou a morte de 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos, ainda causa comoção. Até hoje, nenhum réu foi responsabilizado, mas quatro pessoas respondem judicialmente pelo crime.
Leia na íntegra a nota divulgada pelo MP gaúcho: “O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, considerando o interesse público e a realidade dos fatos envolvendo um caso ainda sub judice, vem a público manifestar-se sobre a série intitulada ‘Todo dia a mesma noite’, produzida e veiculada pela empresa Netflix. Mesmo cientes de que se trata de uma ficção, é nossa obrigação, como instituição pública, fazer alguns esclarecimentos. Ao apresentar tanto personagens quanto o Sistema de Justiça, seus ritos e regramentos de forma caricaturada em muitos momentos, a obra contribui para a desinformação e para a criação de uma memória coletiva contaminada por versões e por fatos que não ocorreram como apresentados. Além disso, a série explora, para o entretenimento, a dor de centenas de famílias, ainda enlutadas, que aguardam, em longa espera, a punição dos culpados. E o mais grave, a produção do canal de streaming expõe uma versão para a opinião pública de um caso ainda em tramitação, que poderá ser objeto de novo júri popular, possibilidade que a instituição luta com muito empenho para afastar. O MPRS vem travando uma longa e árdua batalha para garantir a pronúncia dos quatro réus – responsáveis diretamente pelos homicídios –, a posterior condenação, ocorrida em julgamento realizado em dezembro de 2021 e, atualmente, a reversão da anulação do júri por meio de recursos aos Tribunais Superiores. Vale lembrar que, desde o início, a instituição vem atuando não só para a condenação, mas para garantir a prisão dos culpados. Além de presos preventivamente por aproximadamente três meses em 2013, foi a partir de recurso do MPRS apresentado ao Supremo Tribunal Federal que os quatro réus voltaram para prisão em 2022 e lá ficaram por cerca de oito meses, cumprindo pena resultante de suas condenações pelo Tribunal do Júri, até a soltura determinada pela Justiça a partir da anulação do julgamento. Também oportuno destacar que, além dos denunciados por homicídio, outras 47 pessoas foram alvo de ações do Ministério Público, na medida de suas responsabilidades, nas áreas criminal e cível, na Justiça comum e militar. Concluímos manifestando nossa solidariedade aos familiares e sobreviventes da tragédia e reiteramos nossa disposição e empenho para seguir lutando, o quanto for necessário, para que a justiça seja feita”.