Terça-feira, 22 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 17 de abril de 2023
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi derrotada no Congresso de seu partido, a Rede Sustentabilidade, e disse sair do encontro “sangrando” por causa dos ataques sofridos. O racha foi exposto quando os grupos de Marina e do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (AP), se dividiram pelo comando nacional da Rede.
Militantes trocaram acusações, vaias e ofensas durante os três dias do 5.º Congresso da legenda, em Brasília. A chapa “Rede Vive Pela Base”, que tinha o apoio de Randolfe e se posicionou mais à esquerda, venceu a disputa. Foram 234 votos para o grupo de Randolfe e 165 obtidos para o de Marina.
A ministra se comparou a um “bisão”, bovino de grande porte, sendo atacado por leões por todos os lados. “Ele é muito forte, muito grande, mas ele morreu. Neste momento, saio daqui sangrando”, disse Marina, que acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem à China.
A chapa “Rede Vive Pela Base” reelegeu a ex-senadora Heloísa Helena e o engenheiro ambiental Wesley Diógenes. A estrutura do partido não prevê a existência de um presidente, mas, sim, de dois porta-vozes nacionais (um homem e uma mulher). O ambientalista Pedro Ivo, um dos fundadores da Rede, afirmou que a sigla deve superar a ideia de que “não é nem de esquerda e nem de direita”. A frase foi dita por Marina ainda em 2013, no lançamento do partido.
O “Rede Vive”, de Marina, indicou Giovanni Mockus e Joênia Wapichana, presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), como postulantes ao cargo de porta-vozes nacional. O grupo prega que é preciso abranger não apenas a esquerda, mas outros espectros políticos.
“Esse partido tem lugar para a esquerda, tem lugar para quem não é de esquerda. E eu me digo sustentabilista progressista”, disse Marina. “O que se propõe tem lugar para minha irmã (Heloísa Helena), tem lugar para mim, para vocês, para o jovem e um lugar para a primeira mulher indígena ser presidente de um partido.”
O clima de racha já existia antes mesmo do começo do Congresso. Aliados de Marina pediam o adiamento do encontro, alegando o alto preço dos voos para Brasília e a ausência da ministra, que estava na comitiva de Lula na China.
Marina, no entanto, fez questão de comparecer à convenção e aproveitou para rebater acusações de adversários de que ela teria oferecido cargos em troca do apoio à sua chapa na disputa.
“Tivemos no sábado discussões acirradas, tachações indevidas e insinuações que ferem a honra”, afirmou a ministra, visivelmente cansada da viagem.
Lados opostos
Um dos argumentos do grupo rival foi o de que a ministra teria oferecido cargos no partido em troca de votos. “É inaceitável um partido do campo democrático popular viabilizar todos os mecanismos para comprar voto, para promessa de cargo”, afirmou Heloísa Helena.
“É uma leviandade afirmar que a ministra Marina ofereceu alguma coisa a alguém”, rebateu o deputado Túlio Gadelha (PE), após o discurso de Heloísa. Gadelha foi vaiado por ativistas do “Pela Base”, grupo de Randolfe e Heloísa, sentados à esquerda do auditório do hotel San Marco, onde se realizou a convenção. Do lado direito, com alguns ao centro, estava o “Rede Vive”, que levou máscaras de Marina ao evento.
Ex-filiado do PDT, Gadelha reproduziu um discurso de militantes do grupo de Marina que acusaram o “Pela Base”, de Heloísa e Randolfe, de terem votado em Ciro Gomes (PDT) para presidente. “Os votos de Ciro Gomes foram para Bolsonaro”, afirmou o deputado, numa referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele foi novamente vaiado.
Antes mesmo da convenção, militantes da chapa “Pela Base”, de Randolfe, cantarolaram “A Rede que eu quero não votou no Aécio”, relembrando o apoio da ministra a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial de 2014. Ex-petista, Marina participou da primeira rodada daquela disputa, após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, de quem era vice na chapa. Hoje deputado, Aécio concorreu contra Dilma Rousseff (PT) e perdeu.