Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de fevereiro de 2025
Em meio a embates com grandes empresas de tecnologia, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), fez um discurso de cerca de 40 minutos aos novos alunos da Faculdade de Direito da USP nessa segunda-feira (24) criticando as big techs.
O magistrado afirmou que “as big techs não são enviadas de Deus, como alguns querem”.
“Elas não são neutras. São grupos econômicos que querem dominar a economia e a política mundial, ignorando fronteiras, ignorando a soberania nacional de cada país, ignorando legislações, para terem poder e lucro”, afirmou.
Ele associou essas companhias ao fascismo e à lavagem cerebral, afirmando que as redes sociais foram instrumentalizadas pela extrema direita em diferentes países para atacar o que chamou de três pilares da democracia: uma imprensa livre, eleições periódicas e um Judiciário independente.
“Estamos começando a entender como se deu esse processo de transformar as redes sociais em instrumentos de uma ideologia nefasta, o fascismo, disseminando discursos de ódio, misoginia, homofobia e até ideias nazistas”, declarou.
Descreveu então o que seria o “modus operandi” dos “movimentos de populismo digital extremista”.
“Em nenhum lugar do mundo esses grupos dizem que são contra a democracia. Eles dizem: ‘essa democracia […] tem fraudes’, então essa não vale. Se eu perder, não vale. Só tem democracia se eu ganhar. E para poder fortalecer a democracia, eu tenho que tomar o poder. Esse é o discurso”, disse.
Moraes sustentou ainda que as big techs e os grupos extremistas exploraram as crises econômicas e a concentração de renda ocorridas nos últimos 40 anos, fazendo crescer a insatisfação com a democracia pelo mundo.
Falando do caso brasileiro, citou um sentimento de revolta de parcelas da população, “especialmente homens brancos heterossexuais de meia-idade, que se sentiram ameaçados pelas mudanças sociais e econômicas”. Ele afirmou que as redes sociais amplificaram esse discurso.
“O que antes era uma piada do ‘tio do churrasco’ se transformou em um discurso dominante, capaz de influenciar eleições e corroer instituições democráticas”, argumentou. O ministro ponderou que não foram as big techs ou as redes sociais que geraram esse sentimento, “mas souberam captar”.
Na semana passada, Moraes foi alvo de uma ação conjunta em um tribunal federal dos EUA impetrada pela empresa de mídia do presidente Donald Trump e pela plataforma de vídeos Rumble. O processo foi movido em distrito na Flórida, onde o Rumble está sediado.
As plataformas afirmam que recentes ordens de Moraes determinando que o Rumble feche a conta do influenciador bolsonarista Allan dos Santos e forneça os seus dados de usuário violam a soberania dos Estados Unidos, a Constituição americana e as leis do país.
O Rumble saiu do Brasil em dezembro de 2023 devido ao que descreveu como diversas “ordens injustas de censura” emitidas por Moraes para banir da rede criadores de conteúdo e figuras públicas, incluindo parlamentares.
Na época, Moraes determinou que a companhia mantivesse sigilo sobre essas ordens, ameaçando a empresa com a interrupção de seus serviços no Brasil caso não as cumprisse imediatamente. A decisão da plataforma de sair do país se deu para evitar a imposição de multas pela Justiça brasileira.
Suspensão
Na última sexta (21), o ministro mandou suspender o Rumble em todo o território nacional. Ele afirmou que a medida era necessária diante de “reiterados, conscientes e voluntários descumprimentos das ordens judiciais”.
No mesmo dia, a conta de Moraes no X (ex-Twitter) apareceu desativada. Segundo o STF, foi ele próprio quem inativou seu perfil, pois já não o utilizava desde janeiro de 2024. “Me retirei”, disse à CNN Brasil o juiz, que tem promovido uma série de decisões duras contra o site do empresário Elon Musk. (Folha de S.Paulo)