Único ministro do PT a eleger um aliado em capital, com Evandro Leitão (PT) em Fortaleza, Camilo Santana afirma que o governo precisa fazer uma reflexão profunda para entender quais são as prioridades das pessoas e verificar por que parte da população mais empobrecida, principal beneficiária de programas sociais, não está mais votando no PT.
Em entrevista ao Globo, o ministro da Educação pede que o partido faça uma avaliação com “humildade” do resultado eleitoral, diz que falta comunicação ao governo e defende que o Congresso aprove até o fim do ano o projeto que proíbe o uso de celular nas escolas.
O PL elegeu quatro prefeitos em capitais, dois deles no Nordeste (Maceió e Aracaju). O que explica esse avanço da direita numa região onde o PT costuma ser forte?
Não vejo isso. Existe essa polarização. Do ponto de vista nacional, o (ex-presidente Jair) Bolsonaro perdeu. O país foi muito mais para o centrão e para a centro-direita.
A maior parte da densidade eleitoral do PT hoje está concentrada no Nordeste. Como reconquistar a relevância em outras regiões?
É um momento importante para o PT fazer uma reflexão, principalmente no Sudeste, em São Paulo, que foi o berço do partido. E fazer uma avaliação com muita humildade, tranquilidade, para entender o que tem mudado no cenário político, na comunicação com as pessoas. Precisamos renovar os quadros. Digo isso não só do ponto de vista político, partidário e eleitoral, mas do ponto de vista do governo. O PT é o partido que mais criou programas sociais para olhar para os mais pobres, e parte dessa população não votou no PT. Então, precisamos entender a falta de comunicação. E não é falta de propaganda. É preciso compreender de que forma estamos nos relacionando com a população enquanto governo.
Se o governo prioriza os mais pobres com suas políticas, por que uma parte dessa população não vota no PT?
A gente precisa fazer pesquisas científicas, qualitativas, para entender um pouco o sentimento das pessoas. Quais são as prioridades delas? Tem que entender essa dinâmica. E não é só no Brasil, é no mundo inteiro. Tem eleição do (Donald) Trump nos Estados Unidos, do (Javier) Milei na Argentina… O governo precisa fazer uma reflexão para compreender essa dinâmica que está acontecendo e ver as estratégias que são importantes para dialogar melhor com a população, com a família e com o sentimento das pessoas. Considero que um dos temas que abala e atinge a grande maioria da população brasileira é a segurança. O Brasil não é um país produtor de droga, ela entra pelas fronteiras. As organizações criminosas tomaram conta de alguns espaços no país. Nenhum governador sozinho vai conseguir resolver esse problema.
O senhor foi o único ministro do PT que conseguiu eleger aliado em capital. O que falta para o partido reconquistar votos nas maiores cidades brasileiras?
Cada estado tem uma realidade diferente. No caso específico do Ceará, nós temos um projeto que tem trazido resultados importantes para o estado, com avanços importantes na educação, na economia e no crescimento do estado. As pessoas estão reconhecendo isso. Nas capitais, é um público que depende menos do Estado, das políticas públicas.
Qual deve ser o norte para a construção da aliança de Lula em 2026? Atrair o centro e a direita são prioridades?
Quanto mais a gente conseguir unir e agregar. Eu fui governador com apoio dos partidos de centro, PP, PSD, MDB e Republicanos. Agora mesmo, o Evandro (Leitão, prefeito eleito de Fortaleza) tem apoio do PP, PSD e Republicanos. Defendo que é importante o diálogo, construir consensos. Democracia é isso.
O governo está discutindo um pacote de corte de gastos. O que a Fazenda pediu ao senhor?
Quem fala de questões orçamentárias é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem feito um grande trabalho. Para um governo, responsabilidade fiscal é muito importante. Você não consegue fazer entrega se não tiver o país sob equilíbrio. E o presidente Lula tem compromisso com a educação.
O deputado federal Eunício Oliveira (MDB-CE) disse que o senhor seria a melhor opção para suceder Lula na Presidência. Concorda?
Isso é bondade dele. O meu candidato à eleição chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Tenho um mandato de oito anos (no Senado) e nenhum interesse de ser candidato. Meu único foco neste momento é trabalhar muito pela educação.