Sexta-feira, 21 de março de 2025
Por Redação O Sul | 20 de março de 2025
O Copom decidiu por unanimidade elevar a taxa básica de juros.
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência BrasilO ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou nesta quinta-feira (20) que o Banco Central (BC) tem a obrigação de fazer a inflação cair e está buscando uma meta exigente. Segundo ele, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva fará a sua parte para o controle de preços.
O chefe da equipe econômica isentou o atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, pelo choque de juros dado pela autoridade monetária e disse que a nova cúpula tem uma herança da gestão anterior, do ex-presidente Roberto Campos Neto, para administrar.
“Você não pode, na presidência do Banco Central, dar um cavalo de pau depois que assumiu [o cargo]. Isso é uma coisa muito delicada. Um novo presidente, com os novos diretores, eles têm uma herança a administrar, mais ou menos como eu tive uma herança a administrar em relação ao Paulo Guedes”, disse Haddad.
Na quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por unanimidade elevar a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano, mesmo nível atingido durante a crise do governo de Dilma Rousseff (PT).
No comunicado, o colegiado do BC sinalizou que os juros vão continuar subindo na próxima reunião, em maio, e que pretende fazer uma nova alta de menor intensidade. Apesar da indicação, evitou se comprometer com um ritmo específico de ajuste.
“Nós queremos uma inflação cada vez mais comportada, sabendo que, quando ela sai da banda, o Banco Central tem que tomar providência para trazê-la para o patamar convencionado com o Conselho Monetário Nacional [colegiado formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do BC]”, afirmou Haddad.
“Acredito muito que a equipe do BC vai fazer o trabalho corretamente para trazer a inflação [para meta] e nós vamos fazer a nossa parte”, acrescentou. “São metas sempre exigentes, mas que nós temos que buscar.”
O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta de inflação é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano teve um leve recuo de 5,2% para 5,1%, mas ainda bastante acima do teto da meta. Para o terceiro trimestre de 2026 –período hoje na mira do BC–, a estimativa caiu marginalmente de 4% para 3,9%.
Desde o início do ciclo de alta de juros, em setembro de 2024, já foram cinco aumentos consecutivos. Em dezembro, além de subir a Selic em um ponto percentual, o Copom prometeu mais duas altas da mesma intensidade nas reuniões seguintes, em janeiro e março. Agora, concretizou a estratégia traçada.
“Na última reunião de dezembro, ainda sob a presidência do antigo presidente do Banco Central, que foi nomeado por [Jair] Bolsonaro e ficou dois anos além do mandato do Bolsonaro na presidência do Banco Central, você contratou, como dizem, três aumentos bastante pesados na Selic”, disse Haddad.
A piora nas expectativas de inflação tem dificultado o processo de convergência da inflação à meta. No radar dos economistas está a preocupação com a política fiscal expansionista do governo Lula.
Em meio à queda de popularidade do presidente, foram apresentadas medidas de estímulo à economia, como o novo consignado privado para trabalhadores do setor privado e a liberação do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
No caso da proposta de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês, há temor pela resistência do Congresso à proposta de compensação apresentada pelo Executivo de cobrar um imposto mínimo dos ricos.
Haddad disse também não acreditar na necessidade de uma recessão da economia para a queda da inflação no Brasil. “Acho que você consegue administrar a economia de maneira a crescer de forma sustentável sem que a inflação saia do controle”, afirmou. (Folhapress)