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Economia Ministro da Fazenda, Fernando Haddad tenta manter credibilidade enquanto cede à pressão política

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi escalado por Lula para ser a sua face no anúncio do pacote de gastos. (Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda)

“O mercado não quer previsibilidade? Então, vamos pegar toda a agenda e colocar no anúncio”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, encerrando o debate no Palácio do Planalto na tarde do último dia 25, segundo relatos de quem estava presente. Em uma reunião que durou horas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentara convencer o mandatário a reconsiderar a ideia de anunciar de forma conjunta o pacote de corte de gastos e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, uma promessa da campanha de 2022.

Misturar uma proposta com a outra criaria ruído e prejudicaria o esforço do governo de acalmar os investidores, dizia o chefe da equipe econômica – que ficou isolado em seu parecer.

Como previu Haddad, o mercado digeriu mal a tentativa do governo de dar uma roupagem política para o anúncio do pacote de corte de gastos. Após o tão aguardado anúncio da proposta, o dólar bateu recorde nominal por três dias seguidos e superou a casa de R$ 6 diante da dúvida da sustentabilidade do regime fiscal.

O alvoroço dos investidores levou o ministro da Fazenda a sinalizar um recuo em reunião com banqueiros na sexta-feira, enquanto os presidentes da Câmara e do Senado indicaram que a proposta poderia passar por mudanças no Congresso.

Haddad sabia que a missão de colocar o pacote de pé seria das mais duras. A principal barreira parecia superada quando Lula deu aval à discussão do plano em meados de outubro. O time da Fazenda não antecipava tantos solavancos e tratativas nos cerca de 40 dias que se seguiram. Só no Palácio do Planalto, foram ao menos oito reuniões ministeriais conduzidas por Lula para discutir o ajuste fiscal do fim de outubro para cá.

Numa dessas reuniões, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, disse que “quem tem que dar lucro é empresa privada, não governo”, colocando em dúvida a necessidade de se alcançar superávits fiscais. O próprio presidente volta e meia parecia hesitar sobre o tamanho do esforço de austeridade necessário, mas foi convencido a avançar com o programa de contenção de despesas.

Para levá-lo adiante, porém, abriu amplo debate no governo e, nas conversas, reiterava que não iria anuir com retirada de direitos. Não era esse o plano de Haddad, ainda que para alguns integrantes do governo assim parecesse.

Na batalha pelo pacote de contenção de gastos, Haddad desgastou-se com parte do governo, mas amealhou ao menos um aliado imprevisto: Rui Costa. Os dois já tiveram incontáveis embates, mas dessa vez alinharam-se. Era terreno a que Haddad não estava acostumado a pisar. Em geral, vinham justamente da Casa Civil reparos às suas propostas.

Rui entendeu que, sem ajuste, sobraria cada vez menos dinheiro para investimentos — leia-se para o PAC.

Segundo integrantes do governo, o chefe da Casa Civil deu suporte à equipe econômica e a aliança acabou se tornando decisiva para o pacote sair. A parceria, contudo, não durou até o fim. Rui foi um dos que, diante de Lula, advogaram pelo anúncio conjunto do corte de gastos com a isenção no Imposto de Renda.

No centro da argumentação de Haddad, estava a necessidade de garantir o cumprimento do arcabouço fiscal e sinalizar que o governo segue comprometido com a promessa de tirar do vermelho as contas públicas. Era isso que abriria espaço para queda de juros e garantiria chegar em 2026 com dinheiro para gastar.

Os ministros da área social, porém, mostravam-se arredios. Luiz Marinho, do Trabalho, reclamou de não ter sido consultado sobre a ideia de mexer nas regras do seguro-desemprego – o que, no final, acabou não entrando. Mudanças no piso de gastos da Saúde, área comandada por Nísia Trindade, saíram de debate depois que cálculos mostraram que a medida só teria efeito sobre os gastos a partir de 2027, ou seja, após o atual mandato.

Lula autorizou a mudança na regra de correção do salário mínimo, mas, diante do levante de ministros da área social, tratou de desidratar o plano que, ao fim, trouxe mudanças mais suaves no pagamento do abono salarial e medidas como o uso de biometria para acesso a benefícios. Além disso, tentou montar um discurso de que todos seriam atingidos.

Foi ciente da necessidade de encorpar o pacote que Haddad reuniu-se com o ministro da Defesa, José Múcio, e os três comandantes das Forças Armadas, em 13 de novembro. A eles, disse que a economia inspirava cuidados e a situação do país exigia a contribuição de todos. Os militares precisavam também entrar no pacote, decidira Lula.

A negociação mais dura foi em relação à idade mínima para um militar ir à reserva — hoje, apenas o tempo de serviço é condição para a aposentadoria. Haddad mirava fixar em 60 anos, mas houve resistência das tropas. Se um militar fica mais tempo na carreira, outros demoram mais a ser promovidos. O descontentamento seria enorme. Pactuou-se então o piso de 55 anos.

Após fazer todas essas costuras de interesses e ceder à pressão política, Haddad foi escalado por Lula para ser a sua face no anúncio do pacote de gastos e da isenção do imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O presidente escalou para a missão Ricardo Stuckert, responsável por zelar pela imagem do mandatário nas últimas décadas.

O marqueteiro Sidônio Pereira, que fez a campanha presidencial do petista de 2022, foi chamado a Brasília para supervisionar os preparativos e acompanhar a gravação. O texto foi aprovado pelo próprio. Foram ao ar sete minutos de pronunciamento, com imagens que remetiam à estética eleitoral e referências a programas do governo.

Se o mercado torceu o nariz para o anúncio de Haddad, o mesmo não ocorreu com integrantes da ala mais radical do PT, que vinha pegando no pé do ministro da Fazenda desde o início do governo. Integrantes do partido, ligados à presidente Gleisi Hoffman, festejaram a iniciativa de desonerar a classe média e taxar os mais ricos, ainda que a medida seja só para o ano que vem e com destino incerto no Congresso. Colegas do chefe da equipe econômica viram no pronunciamento um gesto inequívoco do prestígio do ministro junto a Lula. As informações são do jornal O Globo.

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https://www.osul.com.br/ministro-da-fazenda-tenta-manter-credibilidade-enquanto-cede-a-pressao-politica/ Ministro da Fazenda, Fernando Haddad tenta manter credibilidade enquanto cede à pressão política 2024-12-01
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