Quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de fevereiro de 2025
Cid teme pelo levantamento do sigilo da colaboração premiada após a apresentação da denúncia.
Foto: Geraldo Magela/Agência SenadoProcuradores acreditam que o ministro Alexandre de Moraes (STF) vai derrubar o sigilo da delação de Mauro Cid depois que o Ministério Público Federal (MPF) apresentar as denúncias do inquérito do golpe.
O raciocínio que guia a expectativa está fincado tanto no histórico do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, quanto na exigência legal de que, uma vez denunciadas, todas as partes do processo devem ter acesso integral aos dados que compõem a acusação para formular a defesa.
Para procuradores que atuaram na composição das peças, não haveria sentido em deixar apenas advogados dos alvos com as informações da delação de Cid, cujo conteúdo é 100% sigiloso.
Esse grupo de integrantes do MPF recorda-se de apenas uma exceção ao histórico de Moraes quando o assunto é a publicidade dos atos judiciais: o caso do assassinato de Marielle Franco. Naquela ocasião, quando a denúncia foi apresentada, apenas os advogados dos acusados tiveram acesso ao acordo de delação premiada de Ronnie Lessa. “Mas ali, as investigações ainda estavam em andamento. No caso do 8/1, a PF encerrou o inquérito”, explica a fonte.
O tenente-coronel Mauro Cid teme pelo levantamento do sigilo da colaboração premiada após a apresentação da denúncia. Os depoimentos do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro foram fundamentais para a investigação. Embora trechos da colaboração se tornaram públicos nos relatórios da Polícia Federal (PF), grande parte do conteúdo segue em segredo de justiça.
A preocupação do ex-ajudante de ordens é o grau de exposição com o acesso aos detalhes de suas declarações à Polícia Federal sobre a dinâmica da suposta trama golpista envolvendo Bolsonaro, integrantes de seu governo e aliados. Mauro Cid prestou mais de dez depoimentos.
O acordo de colaboração premiada foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, em 9 de setembro de 2023. Ao firmar o acordo, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro deixou a prisão. Ele estava preso desde 3 maio do mesmo ano, depois de ser alvo de investigação que apura a inserção de dados falsos nos cartões de vacina do ex-presidente.
No primeiro depoimento da delação, o ex-ajudante de ordens citou nove dos 40 indiciados pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Segundo o ex-ajudante de ordens, depois da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), três grupos gravitavam em torno de Bolsonaro.
De acordo com Mauro Cid, o primeiro grupo era de “conservadores”, que teriam uma linha política. A intenção desse grupo era transformar Bolsonaro em um “grande líder da oposição”. Alguns dos integrantes seriam o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União.
Havia ainda os “moderados”, que diziam não concordar com “as injustiças” do Brasil, mas não eram a favor de uma intervenção radical. “Entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições, qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”, afirma Cid. Participantes incluíam o general Freire Gomes, então comandante do Exército, além do general Paulo Sérgio Nogueira, que era ministro da Defesa.
O terceiro grupo, segundo a delação, era composto por “radicais”, que era dividido em dois núcleos: um que seria a favor de ir atrás de uma suposta fraude nas urnas. Outra parcela “era a favor de um braço armado”. Estavam inclusos, de acordo com o documento, o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.
Cid cita ainda como parte da ala mais radical e que conversava “constantemente com o ex-Presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado” a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
O ex-ajudante de ordens, por duas vezes, esteve ameaçado de perder os benefícios da delação. Em março de 2024, Mauro Cid ficou sob risco de perder a delação premiada após áudios vazados em que ele critica Alexandre de Moraes e a Polícia Federal (PF).
Após prestar depoimento a Moraes no dia 22 daquele mês para explicar o vazamento dos áudios publicados pela revista “Veja”, o militar foi preso novamente. Ele passou mal e chegou a desmaiar na audiência.
Mauro Cid foi solto em 3 de maio do ano passado por decisão de Alexandre de Moraes, que manteve integralmente o acordo de delação premiada. Na decisão, o ministro citou que o ex-ajudante de ordens reafirmou a “voluntariedade a legalidade do acordo” e ressaltou que os áudios divulgados pela revista Veja “se tratavam de mero ‘desabafo’”.
Em novembro, o ex-ajudante de ordens teve de prestar esclarecimentos ao ministro Alexandre de Moraes após a Polícia Federal apontar contradição em suas declarações. Com informações dos portais de notícias CNN Brasil e g1.