Domingo, 30 de março de 2025
Por Redação O Sul | 26 de março de 2025
O comentário de Moraes foi feito durante o segundo dia de julgamento da denúncia
Foto: Bruno Peres/Agência BrasilO ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ironizou nesta quarta-feira (26) o discurso feito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro contra ele durante o Sete de Setembro de 2021. Na época, Bolsonaro atacou Moraes e disse que não cumpriria mais suas decisões. O ministro disse que foram “palavras carinhosas”.
“Em Sete de Setembro de 2021, todos se recordam, na Avenida Paulista, que o então presidente Jair Bolsonaro, após algumas palavras carinhosas em relação à minha pessoa, disse que a partir daquele momento não cumpriria mais ordem judicial”, relembrou.
O comentário de Moraes foi feito durante o segundo dia de julgamento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outras sete pessoas por uma suposta tentativa de golpe de Estado.
O discurso de Bolsonaro em 2021 é citado na denúncia como parte dos confrontos do ex-presidente com o STF. Na época, em manifestação na Avenida Paulista, o então presidente chamou Moraes de “canalha”:
“Ele tem tempo ainda para se redimir, de arquivar seus inquéritos… Ou melhor, acabou o tempo dele. Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha. Deixa de oprimir o povo brasileiro, deixa de censurar o seu povo. Eu falo em nome de vocês. Devemos determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade”, disse Bolsonaro à época.
Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras sete pessoas réus por tentativa de golpe de Estado. Em cerca de duas horas, o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, exibiu vídeos do 8 de Janeiro e citou elementos que, em sua visão, corroboraram a acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR). Além disso, rebateu argumentos da defesa apresentados na véspera, como o envolvimento do ex-presidente na elaboração sobre uma minuta golpista.
Além de Moraes, votaram os ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, presidente do colegiado.
O ministro Alexandre de Moraes destacou que a denúncia da PGR descreve de forma detalhada os fatos da tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado de Direito. Ele ressaltou que, para receber a denúncia, o que se exige é a comprovação da materialidade dos delitos e que essa materialidade já foi reconhecida pelo STF em 474 outras denúncias envolvendo os atos do 8 de Janeiro.
O magistrado também debateu trechos das sustentações orais dos advogados, feitas na terça-feira, e destacou que seis dos oito defensores “reconheceram a gravidade dos fatos ocorridos no dia 8 de janeiro”. Antes de exigir vídeos com as ações do 8 de Janeiro, de depredação dos prédios públicos, Moraes voltou a frisar que as ações não foram um “passeio no parque”.
“O dia 8 de janeiro de 2023 foi uma notícia péssima para a democracia, para as instituições e para os brasileiros que acreditam num país melhor. Mas esse viés de positividade faz com que aos poucos relativizemos isso e esqueçamos que não houve um domingo no parque. Não foi um passeio no parque. Ninguém estava passeando, e ninguém estava passeando porque tudo estava bloqueado e houve necessidade de romper as barreiras policiais”, disse.
O ministro também ressaltou que o ex-presidente Jair Bolsonaro conhecia e manuseava a minuta do golpe de Estado. O documento encontrado pela Polícia Federal foi apresentado por Bolsonaro aos comandantes das Forças Armadas.
“Não há dúvida que Bolsonaro conhecia, manuseava e discutiu sobre a minuta do golpe. As interpretações sobre o fato vão ocorrer durante a instrução processual penal. Se ele analisou e não quis, se analisou e quis, isso será no juízo de culpabilidade. Mas não há dúvida de que ele tinha conhecimento da minuta do golpe que foi apreendida”, afirmou o relator.