O ministro Augusto Nardes, do TCU (Tribunal de Contas da União), disse aos colegas de plenário nessa quarta-feira que não quer conduzir sozinho investigação sobre denúncias de tráfico de influência envolvendo o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente da Corte, Aroldo Cedraz.
O TCU anunciou há quase um mês a abertura de uma apuração preliminar sobre o caso, que não avançou. Ministros resistem em assumir a relatoria do processo, sob o argumento de que seria um constrangimento e um desgaste perante Aroldo Cedraz. Em julho, o escritório do advogado foi alvo de buscas na Operação Politeia – braço da Lava-Jato no Supremo que apura a suposta atuação dele para influenciar decisões da corte, com base em depoimentos do dono da UTC, Ricardo Pessoa, delator do esquema de corrupção na Petrobras. Tiago fez fortuna à frente da banca, com forte presença no órgão comandado pelo pai. Circula com desenvoltura pelos gabinetes da Corte e tem relações próximas com alguns ministros.
Um relatório do TCU, obtido por meio da Lei de Acesso à Informação, relaciona ao menos 79 visitas dele ao prédio do tribunal em Brasília desde o fim de 2006, ano em que começou a atuar como advogado. A investigação preliminar foi instaurada por Raimundo Carreiro, corregedor do TCU, mas ele não ficou à frente do caso, pois foi citado na delação de Pessoa. Em depoimento, o empresário disse ter pago 1 milhão de reais para que Tiago atuasse em caso relacionado a obras na usina de Angra 3. No TCU, Carreiro é o relator de processos sobre essas obras. O ministro e Tiago negam qualquer participação em ilícitos.
Nardes foi sorteado o relator na semana passada e, desde então, vem dizendo que não decidiu se assumirá a função. A declaração de que pretende declinar da relatoria foi feita em sessão reservada do tribunal, perante os demais ministros. Conforme um dos presentes à reunião, o impasse ainda não tem solução.
Os integrantes da Corte discutem a possibilidade de que uma comissão de ministros leve a apuração adiante. Uma decisão a respeito, contudo, não foi tomada. “Isso é um abacaxi”, disse, reservadamente, um dos ministros. (AE)