No auge do distanciamento de Dilma Rousseff com o PT, ministros recomendaram à presidente fazer acenos à base social do partido e voltaram a defender, nos bastidores, a taxação de grandes fortunas. O tema é uma das principais bandeiras do PT e deve ser discutido durante o congresso da sigla, que começa nesta quinta-feira (11).
Dilma ainda não tem posição fechada sobre a proposta, que enfrenta resistências do ministro Joaquim Levy (Fazenda), que prefere a tributação de heranças. Para ele, a taxação de fortunas adotada em outros países recentemente não funcionou –além de não gerar receita significativa, afugentou milionários, que migraram para outros locais.
Ministros petistas insistem, porém, que a presidente precisa reforçar o recado de que o ajuste não vai “onerar só o trabalhador”, apesar de o governo já ter elevado a tributação dos bancos.
Em conversa com petistas em março, o ex-presidente Lula pediu o aprofundamento das relações do PT com movimentos sociais. Dirigentes criticam, nos bastidores, a política econômica do segundo governo Dilma e pressionam por medidas em benefício dos trabalhadores, na contramão do ajuste fiscal.
Levy deve ser alvo de petistas durante o congresso do PT em Salvador. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) levará ao evento críticas ao ministro e ao governo Dilma, a quem acusa de ter promovido uma “guinada na política econômica, com ataques a direitos dos trabalhadores”.
Nessa segunda-feira, a presidente defendeu o ministro da Fazenda. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela disse que Levy não pode ser tratado “como Judas”.
“Eu acho injustas [as críticas a Levy] porque não é responsabilidade exclusiva dele. Não se pode fazer isso, criar um judas”, afirmou.
O vice-presidente Michel Temer também saiu em defesa do ministro nesta segunda, dizendo que ele deveria ser tratado “como Cristo”.
“O ajuste fiscal que o Levy está levando adiante vai representar exatamente isso: num primeiro momento, parece uma coisa difícil, complicada, mas que vai dar os melhores resultados. Muito menos Judas e muito mais Cristo”, disse Temer.
Em entrevista ao jornal belga Le Soir, publicada nessa segunda-feira, Dilma defendeu o freio de arrumação que seu governo está promovendo nas contas públicas e rechaçou a teoria de que sua equipe econômica está usando uma cartilha conservadora.
“Tivemos que fazer esse ajuste, que não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”, afirmou.
A presidente disse ainda que o ajuste fiscal “não é uma escolha”. “O ajuste é essencial. Não é algo que você pode ou não fazer: não há alternativa senão fazê-lo. E para isso é preciso coragem”.
Nos últimos dias, às vésperas do encontro petista, a própria cúpula do PT passou a ficar preocupada com o clima de confronto de alas do partido com o governo e desencadeou uma operação para tentar acalmar os ânimos.
O receio de líderes petistas, partilhado pelo ex-presidente Lula, é que o Congresso do PT aprofunde o distanciamento da presidente com o partido, o que seria prejudicial para os dois lados.
Para reforçar a imagem do PT, deteriorada pelos últimos escândalos como mensalão e petrolão, a cúpula do partido vai defender que, durante o Congresso, sejam lançadas agendas próprias da sigla, como a recriação da CPMF.
A medida não conta com o apoio oficial do governo porque representa mais impostos. Nos bastidores, porém, o Planalto tem simpatia pela proposta.
Aproximação com PT
De olho em uma reaproximação com a sigla, assessores da presidente disseram em maio que ela iria ao 5º congresso da sigla, que acontecerá em Salvador. Mas sua presença ainda não está confirmada oficialmente.
A relação entre a presidente e o PT sempre foi tensa, mas se deteriorou nos últimos meses. No início do segundo mandato, ela demitiu o núcleo ligado a Lula no Planalto, alijando representantes da corrente majoritária da sigla, a CNB (Construindo um Novo Brasil), das principais decisões do governo.
Além disso, nomeou Levy e Kátia Abreu (Agricultura), ministros criticados pela militância petista. (Andréia Sadi e Valdo Cruz/Folhapress)