A gigantesca indústria de defesa dos Estados Unidos está investindo bilhões de dólares de olho no mercado de armas hipersônicas – como os mísseis Mach 5, que voam a pelo menos 6.174km/h, ou seja, cinco vezes mais que a velocidade do som. O renovado interesse dos militares em armas ultravelozes – estimulado pela preocupação de que os EUA estejam ficando para trás da Rússia e da China – abre a porta para contratos lucrativos que podem durar décadas.
A indústria está desenvolvendo uma série de armamentos de superalta velocidade para o Exército, a Marinha e a Força Aérea dos EUA, com o objetivo de poder lançá-los de aviões, submarinos e caminhões. A Lockheed Martin tem a posição de liderança em programas que pretendem entregar protótipos o mais rapidamente – com testes de voo em um novo míssil programados para o primeiro semestre do próximo ano. A Raytheon Technologies e a Northrop Grumman também buscam se firmar no mercado de mísseis que voam a mais de cinco vezes a velocidade do som.
“O que importa é garantir que tenhamos cada vez mais capacidade e classes de capacidade em armas hipersônicas”, diz Jay Pitman, vice-presidente de domínio aéreo e armas de ataque contra mísseis e divisão de controle de fogo da Lockheed. “Isso aumentará a dissuasão estratégica que somos capazes de fornecer.”
Preocupação
Oficiais do Pentágono estimaram recentemente que os programas do Exército e da Marinha que compartilham um míssil comum podem somar US$ 28,5 bilhões aos orçamentos das Forças nos próximos anos.
Os críticos questionam o preço, a viabilidade técnica e a utilidade no campo de batalha da nova classe de hardware militar. A organização Union of Concerned Scientists (ou união de cientistas preocupados, em tradução livre) lançou dúvidas sobre as alegações de que as armas oferecem melhor desempenho do que os mísseis balísticos existentes e alertou para uma corrida armamentista global desestabilizadora.
A busca das armas por rivais estratégicos, de certa forma, evoca as tensões da Guerra Fria, quando abundavam os temores de que um conflito entre os EUA e a União Soviética pudesse causar a aniquilação global por meio de mísseis nucleares. Também foi uma época lucrativa para os fornecedores de equipamentos de defesa.
Mas até que ponto as armas hipersônicas irão alterar o equilíbrio global de poder ainda é uma questão de debate. Alguns observadores veem o risco de que a alta velocidade das armas e as trajetórias de voo imprevisíveis possam levar a erros de cálculo que podem aumentar os conflitos, de acordo com o apartidário Serviço de Pesquisa do Congresso (CRS, da sigla em inglês). Outros argumentam que as armas hipersônicas fazem pouco para alterar a dinâmica entre EUA, Rússia e China, porque os países já têm mísseis nucleares suficientes para subjugar as defesas do inimigo, disse o grupo.
Novas manobras
Voar a velocidades superiores a 6.100 km/h não é nada novo – os mísseis balísticos excedem esse nível quando reentram na atmosfera da Terra do espaço. Mas as armas de próxima geração são projetadas para serem altamente manobráveis nessas velocidades dentro da atmosfera da Terra, ajudando-as a escapar das defesas tradicionais melhor do que os mísseis balísticos que viajam ao longo de um arco previsível.
Os EUA vêm estudando armas hipersônicas há décadas, mas os gastos aumentaram nos últimos anos à medida que o interesse pela tecnologia disparou. O assunto entrou em foco quando o general Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, disse em uma entrevista em outubro na Bloomberg TV que um teste hipersônico recente pela China estava perto de um “momento Sputnik” para os EUA.
Oficiais militares dos EUA confirmaram que a nação asiática testou recentemente uma arma hipersônica que viajou ao redor do mundo e atingiu um alvo na China.
Já o presidente Vladimir Putin celebrou as capacidades hipersônicas da Rússia depois de exibi-las em 2018, embora os EUA tenham falado mais sobre as preocupações com o programa da China.
Até que a tecnologia avance, não está claro precisamente quão grande será uma vantagem para as principais indústrias de defesa dos EUA. Além dos planos de curto prazo para fornecer armas hipersônicas por meio de um punhado de programas de desenvolvimento, os funcionários do Pentágono tomaram poucas decisões sobre quantas e que tipo de armas planejam buscar a longo prazo.
“Ainda estamos esperando o Departamento de Defesa definir onde isso se encaixa em seu portfólio”, disse Wesley Kremer, presidente da Raytheon Missiles & Defense. As informações são da agência Bloomberg.