O Brasil é o segundo País que mais realiza cirurgias bariátricas no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2017, foram realizadas 109 mil cirurgias no País, um aumento de 8,5% em relação ao ano anterior, quando a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica registrou 100.512 procedimentos como este. Apesar da evolução das técnicas e do crescente número de cirurgias realizadas, ainda há muitas dúvidas sobre a redução do estômago.
“O paciente chega no consultório cheios de dúvidas e é muito importante que ele tenha tudo esclarecido, afinal, esta é uma cirurgia que vai mudar a vida dele para sempre. Ela exige um preparo prévio para que ele se adapte à nova vida”, explica o cirurgião bariátrico Admar Concon Filho. “Estima-se que apenas 2% dos pacientes com indicação para a cirurgia bariátrica realmente façam o procedimento. Os motivos para isso são vários e vão desde o medo até a falta de acesso a um serviço médico”, comenta o cirurgião.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a obesidade atinge 18,9% da população brasileira e o excesso de peso faz parte da vida de 53,8% dos brasileiros. “A obesidade é uma doença, que precisa ser tratada porque ela causa muitas outras doenças, algumas fatais. Os riscos de a pessoa ser obesa são muito maiores que os de uma cirurgia bariátrica e tudo isso precisa ser levado em conta na hora de indicar este procedimento ao paciente”, destaca Concon Filho.
Confira alguns mitos e verdades sobre a cirurgia bariátrica:
* Qualquer pessoa pode fazer a cirurgia bariátrica
Mito – Para fazer a cirurgia bariátrica é necessário ter IMC (índice de Massa Corporal) acima de 40 kg/m² e ter tentado, por pelo menos dois anos, outros tipos de tratamentos para emagrecer, sem sucesso. Também é possível fazer com IMC entre 35 e 40 kg/m², desde que o paciente tenha doenças causadas pela obesidade, como diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, dislipidemia, doença coronária, osteo-artrites, doenças cardiovasculares (infarto do miocárdio, angina, insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular cerebral, hipertensão e fibrilação atrial, cardiomiopatia dilatada, cor pulmonale e síndrome de hipoventilação), asma grave não controlada, osteoartroses, hérnias discais, refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica, colecistopatia calculosa, pancreatites agudas de repetição, esteatose hepática, incontinência urinária de esforço na mulher, infertilidade masculina e feminina, disfunção erétil, síndrome dos ovários policísticos, veias varicosas e doença hemorroidária, hipertensão intracraniana idiopática, estigmatização social e depressão.
* Após a cirurgia, poderei comer de tudo que não vou engordar
Mito – O paciente que é submetido a uma cirurgia bariátrica precisa tomar cuidado com a alimentação e evitar alimentos calóricos. Caso contrário, há risco de engordar novamente. Por isso, ele deve ter acompanhamento de nutricionista, adotar hábitos saudáveis de alimentação e fazer atividades físicas.
* O paciente que faz a cirurgia bariátrica pode ter queda de cabelo
Verdade – É muito comum que, por volta do terceiro mês, os pacientes comecem a ter queda de cabelo. Alguns com maior e outros com menor intensidade. Normalmente, isso ocorre até um ano após a cirurgia. A queda de cabelo está relacionada à perda rápida de peso. A equipe multidisciplinar, no entanto, também avalia se há falta de algum nutriente que possa estar agravando a situação.
* Quem faz bariátrica não pode engravidar
Mito – Normalmente, a obesidade dificulta que uma mulher engravide. Com a perda de peso, suas chances de engravidar crescem muito. No entanto, é recomendado que ela engravide apenas após dois anos de cirurgia, quando a perda de peso já estará estabilizada.
* Não vou conseguir comer alguns alimentos nunca mais
Mito – Com a evolução das técnicas cirúrgicas, os pacientes podem comer tudo que comiam antes da cirurgia, mas em uma quantidade menor. Mas é importante destacar que a perda e a manutenção do peso estão ligadas à mudança de hábitos na alimentação.
* Essa cirurgia é mais arriscada que outras
Mito – As técnicas de cirurgia bariátrica, assim como a anestesia utilizada, evoluíram muito nos últimos anos. Hoje, o risco de uma cirurgia bariátrica é o mesmo que de uma cesárea ou da retirada da vesícula. Mas o paciente precisa ter ciência que o seu comprometimento e sua disciplina são fundamentais para o sucesso da cirurgia.
* Vou precisar tomar vitamina a vida toda
Parcialmente verdade – O paciente que fez a cirurgia bariátrica precisa de acompanhamento médico por toda a vida e, sempre que houver falta de alguma vitamina, deverá suplementar com o auxílio do endocrinologista e do nutricionista.
* A cirurgia bariátrica melhora ou cura doenças graves
Verdade – A obesidade causa várias doenças que podem matar. Com a perda de peso, o paciente costuma ter uma melhora significativa de sua saúde, chegando até a ficar curado de algumas comorbidades. Muitos, por exemplo, deixam de tomar remédios para diabetes tipo 2 e pressão alta depois da cirurgia.
* É necessário fazer uma ampla avaliação médica antes da cirurgia
Verdade – O paciente candidato a uma cirurgia bariátrica precisa passar por avaliação de vários profissionais, além do cirurgião. Endocrinologista, cardiologista, nutricionista, psicólogo, fonoaudióloga, enfermeira, fisioterapeuta, ortopedista e pneumologista costumam formar a equipe multidisciplinar.
* É necessário fazer uma dieta restrita após a cirurgia
Verdade – Após o procedimento, o paciente é submetido a uma dieta líquida, depois a uma pastosa, depois a uma dieta branda e, por volta de um mês após a cirurgia, pode voltar a comer praticamente tudo. O tempo e as caraterísticas de cada dieta são definidos pela equipe que acompanha o paciente.