Quando a pandemia do novo coronavírus atingiu os Estados Unidos no início do ano, o país pediu que as montadoras ajudassem a enfrentar a escassez alarmante de respiradores, protetores faciais e máscaras de tecido.
À medida que fábricas de automóveis fechavam com o avanço da doença, a Ford (F), a GM (General Motors), a FCAU (Fiat Chrysler) e outras montadoras se diversificaram e começaram a produzir aparelhos médicos e EPIs (equipamentos de proteção individual). Funcionários foram requalificados ou contratados para fabricar os novos produtos.
No entanto, mesmo começando a retomar a produção regular de veículos, as montadoras continuam a produzir os suprimentos tão necessários para o combate à pandemia.
Isso porque, em parte, elas próprias precisam desses suprimentos, em especial os funcionários das linhas de produção que usam de máscaras e protetores faciais para se proteger contra a doença enquanto estão trabalhando.
Mas as empresas também têm de lidar com uma demanda vinda de fora das empresas, principalmente com os casos de Covid-19 aumentando nos EUA, como confirmado por porta-vozes e executivos da Ford, Fiat Chrysler e General Motors.
A Ford obteve cerca de US$ 50 milhões de lucro com a produção de EPIs e dispositivos médicos, como máscaras purificadoras de ar e respiradores, informou a empresa na semana passada. Entre outras coisas, a Ford trabalhou com a General Electric para fabricar 50 mil respiradores sob um contrato com o Departamento de Saúde dos EUA.
Como prometeu não lucrar com a pandemia, a Ford investiu o dinheiro na produção e distribuição de 100 milhões de máscaras de tecido até o fim de 2021. Até agora, a Ford doou 40 milhões de máscaras para diversas agências, incluindo a Cruz Vermelha, de acordo com um porta-voz da empresa.
A General Motors ainda emprega até 120 pessoas em sua fábrica em Warren, no estado do Michigan, onde a empresa produz máscaras de tecido. Até 15 de outubro, data dos números mais recentes, a GM produziu 13 milhões de máscaras, das quais 9 milhões foram doadas em sua maioria para hospitais e escolas públicas, confirmou o porta-voz da GM Monte Doran. As 4 milhões de máscaras restantes foram usadas por funcionários da GM.
A Fiat Chrysler doou quase 10 milhões de máscaras e mais de 55 mil protetores faciais, disse o porta-voz Kevin Frazier. A FCA nunca vendeu as máscaras que produz, afirmou ele.
As doações da empresa incluem mais de 400 mil máscaras e 30 mil protetores faciais para a Protect Native Elders, uma organização sem fins lucrativos que ajuda as pessoas que vivem em terras indígenas dos Estados Unidos a se protegerem contra o vírus da Covid-19 e a lidar com o impacto da pandemia. Por várias razões, os nativos norte-americanos são desproporcionalmente impactados pelo vírus, de acordo com dados fornecidos pelo grupo.
A ajuda foi muito bem-vinda, disse Dmitri Novomeiski, um dos fundadores do grupo. “Nos primeiros dias da pandemia, nada estava disponível”, disse ele. “Não se podia nem comprar nada”.
Novomeiski disse também que as picapes Ram que a Fiat Chrysler emprestou durante semanas para ajudar a distribuir máscaras e outros suprimentos foram muito importantes. Além das 100 mil máscaras por mês que a Fiat Chrysler está fornecendo, ele espera obter mais picapes para distribuí-las também.
Algo que as montadoras deixaram de fabricar são os respiradores. A General Motors obteve um contrato para respiradores de quase 500 milhões de dólares do governo federal em abril.
Segundo um porta-voz, a GM, em parceria com a Ventec, cumpriu o contrato do governo no fim de agosto, e continuou a fabricar respiradores por alguns meses depois desse prazo. Agora a Ventec está fabricando respiradores por conta própria.
Conforme a Associação Nacional de Governadores dos EUA, a necessidade de respiradores é menos urgente agora do que no início da pandemia. Uma grande produção no início ajudou a preencher os estoques desses aparelhos que, ao contrário de máscaras e aventais descartáveis, podem ser usados repetidamente.
Contudo, voltar a fabricar respiradores e outros dispositivos é possível, se necessário, disse Jim Baumbick, vice-presidente de planejamento, estratégia e gestão de linhas de produtos da Ford.
“Estamos prontos se houver uma maior necessidade ou se recebermos uma solicitação”, disse ele. “Até recebermos esse sinal, estamos nos concentrando nos EPIs, pois esse sinal é claro e sabemos que provavelmente nunca produziremos o suficiente”.