Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 24 de junho de 2021
Em Hong Kong, na manhã desta quinta-feira, as filas se estendiam por centenas de metros, dobrando esquina após esquina. Começando antes do amanhecer, multidões na cidade de 7,5 milhões de habitantes fizeram fila por horas para comprar a última edição impressa do jornal Apple Daily, forçado a fechar pelas autoridades que o acusaram de crimes de segurança nacional.
Normalmente vendendo 80.000 cópias por dia, o jornal imprimiu um milhão de cópias. A demanda era tão grande que, no meio da manhã, os moradores de Hong Kong estavam fazendo uma planilha on-line de lojas de conveniência que ainda tinham cópias à venda, segundo o correspondente do jornal britânico The Guardian.
“Os habitantes de Hong Kong se despediram dolorosamente na chuva: ‘Apoiamos o Apple Daily’”, dizia a manchete final da primeira página. A foto de meia página mostrava a multidão de apoiadores que se reuniram do lado de fora do prédio na noite anterior, deixando mensagens de agradecimento no portão da frente e acenando para os funcionários reunidos nas janelas e sacadas.
Seu fundador e proprietário está preso desde dezembro, seu presidente-executivo e editor-chefe desde a última quinta-feira, e o redator editorial principal foi preso na quarta-feira, 23. Todos foram acusados de conluio estrangeiro sob uma lei de segurança nacional que governos internacionais e grupos de direitos humanos dizem que está sendo usada para esmagar a dissidência.
A crescente pressão sobre a mídia em Hong Kong foi enfatizada com o fechamento do Apple Daily, que costuma criticar os governos da China e de Hong Kong. A cúpula do jornal disse que não tinha escolha a não ser fechar suas portas. O jornal, um dos mais lidos em Hong Kong, é objeto de uma investigação de segurança nacional que também prendeu seu fundador, Jimmy Lai.
Apesar de ter o direito à liberdade de expressão consagrado em sua Constituição local, o território chinês está agora em 80º lugar entre 180 países e regiões no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, abaixo do 18º lugar quando os Repórteres Sem Fronteiras publicaram o índice pela primeira vez em 2002.
Depois que a polícia invadiu a redação na semana passada e o secretário de segurança de Hong Kong, congelou os ativos e as contas do jornal, a empresa-mãe do Apple Daily, Next Digital Media, não teve escolha. Incapaz de pagar os custos operacionais ou de pessoal, anunciou que o site, o aplicativo e as contas de mídia social serão encerrados e o último jornal chegou às bancas nesta quinta-feira.
Uma nota de despedida do ex-editor associado do jornal, Chan Pui-man, que renunciou ao cargo após sua prisão, disse que a administração decidiu fechar o jornal por preocupação com a segurança da equipe.
Dentro da redação, a equipe tirou fotos do grupo, enquanto alguns choraram ao montar a última edição, assistida por repórteres de veículos rivais que estavam lá para cobrir um momento significativo para seu setor.
Nesta quinta-feira, as pessoas compartilharam vídeos das longas filas e fotos das cópias obtidas. A arte de protesto se espalhou pelas redes sociais, em meio à tristeza e raiva com o fechamento.
O ex-presidente-executivo de Hong Kong, Cy Leung, escreveu no Facebook que o Apple Daily estava vendo as consequências para quem é “conivente com a escória de países estrangeiros”. “Apple Daily e Next Magazine, fundada por Jimmy Lai, não são organizações de mídia, mas suas ferramentas de divulgação política. O que quer que tenha acontecido com ele, sua família e assistentes não têm nada a ver com trabalho jornalístico ou liberdade de imprensa”, disse ele. As informações são dos jornais O Estado de S. Paulo e The New York Times e da agência de notícias AP.