Neste sábado (31), um grupo de moradores de Tramandaí e Imbé (Litoral Norte) se reuniu nas imediações da ponte que liga as duas cidades gaúchas, para um protesto contra a instalação de rede destinada a descartar no rio Tramandaí o esgoto produzido em Xangri-Lá. A estrutura – em construção desde o mês passado – é questionada por moradores e autoridades locais.
Enquanto a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) argumenta que os dejetos serão 95% tratados mediante processos avançados e que a nova rede trará benefícios a Xangri-Lá e à vizinha Capão da Canoa (um dos perímetros urbanos mais populosos da região). Mas não faltam críticas à obra e à suposta falta de transparência.
Integrantes da comunidade avaliam que o impacto ambiental não foi devidamente esclarecido à população. A polêmica motivou recentemente uma audiência pública com vereadores de Imbé e chegou ao Ministério Público Federal (MPF), que nos próximos dias atuará como mediador entre o poder público municipal das cidades abrangidas e dirigentes de órgãos envolvidos.
Especialistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fazem coro aos questionamentos, acrescentando que a fauna local (que inclui o boto, dentre outros animais) e atividades como a pesca estarão sujeitos a contaminação por substâncias que escapam aos processos de tratamento. Na lista estão resíduos de remédios, inseticidas e metais pesados, dentre outros itens.
Em declarações à imprensa antes do ato desse sábado, o prefeito de Tramandaí, Luiz Carlos Gauto da Silva, falou do descontentamento com a ideia de descarte de esgoto de Xangri-Lá, localizada a uma distância de quase 24 quilômetros. Ele e outros críticos da construção da nova rede dizem que o plano em curso envolve simplesmente transferir o problema de uma cidade para outra.
Gauto não descarta a hipótese de levar a causa para os tribunais: “Nunca fomos consultados. Se a obra não fora paralisada, talvez tenhamos que judicializar a questão”.
Xangri-Lá
Em dezembro de 2021, diversos problemas no esgoto de Xangri-lá fizeram com que representantes da prefeitura, empresariado local e Corsan firmassem um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) e Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). O objetivo era cessar o extravasamento de resíduos e as rupturas nas estações de tratamento.
No foco da iniciativa também estava a ampliação do sistema para garantir o desenvolvimento sustentável do município. A avaliação é de que existe uma incompatibilidade entre o número de empreendimentos no município litorâneo e a sua infraestrutura de saneamento básico.
“A construção civil é a principal atividade do município, então são indispensáveis medidas para que o desenvolvimento da cidade se dê de forma sustentável”, ressaltou na época um promotor do MP-RS. “O problema não se restringe a Xangri-Lá, pois toca todos os municípios do Litoral Norte, que nunca tiveram um sistema eficiente que comportasse a totalidade da região com comprovada eficiência na proteção ambiental”.
(Marcello Campos)