Sábado, 26 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 14 de fevereiro de 2025
Ao longo da sua carreira, Cacá produziu mais de 20 longas-metragens
Foto: Reprodução de TVO diretor, produtor e escritor Cacá Diegues faleceu nessa sexta-feira (14), aos 84 anos, no Rio de Janeiro. Um dos fundadores do movimento do cinema novo, ele foi imortal da Academia Brasileira de Letras, ele estava internado para se submeter a uma cirurgia, mas teve “complicações cardiocirculatórias” durante a madrugada, antes do procedimento. O velório será realizado na sede ABL neste sábado (15), a partir das 11h. Na sequência, ele será cremado em cerimônia privada.
“Lamentamos profundamente a morte do cineasta e Acadêmico Cacá Diegues, aos 84 anos. (…) Sua obra equilibrou popularidade e profundidade artística ao abordar temas sociais e culturais com sensibilidade. Durante a ditadura militar, viveu no exílio, mas se manteve sempre ativo no debate sobre política, cultura e cinema”, lamentou a ABL em nota em seu perfil no Instagram.
Nos últimos tempos, Cacá vinha trabalhando na finalização de “Deus ainda é brasileiro”, continuação para sucesso de 2003 estrelado por Antonio Fagundes e Wagner Moura, com estreia prevista ainda para 2025. No último domingo (9), o cineasta se reuniu com amigos na casa de Zelito Vianna para dar um depoimento para o documentário “Divino Mestre Zu”, sobre Zuenir Ventura.
“O cinema brasileiro está em silêncio hoje. O Cacá era a voz do nosso cinema, uma pessoa acima de tudo generosa, que falava com todas as pessoas, do popular ao intelectual. Ele apontava para o Norte e iluminava o rumo”, lamenta Walter Carvalho, diretor que registrou a última fotografia de Cacá. “Do grupo do cinema novo, ele era quem sabia colocar de forma política e cultural as questões do cinema com poesia. Ele era capaz de escrever sobre a economia do cinema com poesia. Ele tinha o gosto pela palavra, como tinha pela imagem do cinema.”
Nascido no dia 19 de maio de 1940, em Maceió, Alagoas, Carlos José Fontes Diegues se mudou ainda pequeno com a família para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito na PUC, antes de ser completamente tomado pelo cinema.
Ativo integrante do Centro Popular de Cultura (CPC), participa da única produção cinematográfica realizada pelo órgão: “Cinco vezes favela” (1961). À frente do episódio “Escola de samba, alegria de viver”, ele divide a direção do longa ao lado de Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Farias e Leon Hirszman.
O primeiro longa solo veio dois anos depois, com “Ganga Zumba” (1963), estrelado por Antonio Pitanga e Léa Garcia, e que, segundo a “Enciclopédia do cinema brasileiro”, foi o primeiro filme nacional com protagonistas negros.
Como outros cineastas de sua geração, Cacá teve o início de sua trajetória marcado por obras políticas e com preocupação social. Em “A grande cidade” (1966), centrou sua atenção na questão do imigrante na grande metrópole. Com o aumento da repressão no período da ditadura militar no País, Cacá deixa a realidade de lado e investe na metáfora em “Os herdeiros” (1969), voltando ao Brasil da revolução de 1930 para contar a história de um jornalista que entra, através do casamento, para uma família produtora de café e, aos poucos, vai revelando ambições políticas. A metáfora, no entanto, não caiu bem com o governo militar, que censurou o filme.
Ainda em 1969, aproveitando um convite para participar do Festival de Veneza, Cacá deixa o Brasil e se radica em Paris, na França, contando com a companhia de sua esposa à época, a cantora Nara Leão. Após dois anos vivendo fora, retorna ao país em 1971, e realiza dois filmes aparentemente mais leves e menos ambiciosos, embora com claras conotações políticas. Assim nascem “Quando o carnaval chegar” (1972), estrelado por Nara, Chico Buarque, Maria Bethânia, Hugo Carvana e Antonio Pitanga, e “Joanna Francesa” (1973), com Jeanne Moreau.
Os anos seguintes marcariam o período de maior sucesso comercial do realizador. Em 1976, lança “Xica da Silva”, com Zezé Motta, em que retorna ao tema da escravidão 13 anos depois de “Ganga Zumba”. O filme foi visto por 3,2 milhões de espectadores no Brasil, segundo dados da Ancine. Na sequência, realiza “Chuvas de verão” (1978), com Jofre Soares e Míriam Pires, e “Bye Bye Brasil” (1980), com José Wilker, Betty Faria e Fábio Jr.. Com trilha sonora de Chico Buarque, o longa participou da mostra competitiva do Festival de Cannes.
Como toda produção da época, Cacá sofre com as ações do governo Collor que desmantelaram o cinema nacional. No período, acaba realizando duas produções lançadas diretamente na TV: “Dias melhores virão” (1989) e “Veja esta canção” (1993), coproduzido por Zelito Viana. Em 1996, lança “Tieta do Agreste”, adaptação de Jorge Amado estrelada por Sonia Braga, Marília Pêra e Chico Anysio. Dois anos depois, dirige “Orfeu” (1998), com Toni Garrido e Patrícia França, uma adaptação de Vinícius de Moraes.
Lançado em 2003, com Antônio Fagundes e Wagner Moura, “Deus é brasileiro” marcou o segundo maior sucesso comercial do realizador. O longa vendeu 1,6 milhão de ingressos. Em 2023, vinte anos depois, Cacá filma a continuação “Deus ainda é brasileiro”, que está em processo de finalização com previsão de estreia para 2025.
Seu último filme lançado comercialmente foi “O grande circo místico”, exibido no Festival de Cannes e escolhido como representante brasileiro na corrida por uma indicação ao Oscar, em 2018.