Sexta-feira, 14 de março de 2025
Por Redação O Sul | 13 de março de 2025
Estão marcadas para esta sexta-feira (14), em Porto Alegre, as despedidas à veterana jornalista gaúcha Erika Kramer, 87 anos. Ela faleceu em casa, onde recebia tratamento contra um câncer de pâncreas descoberto cinco meses antes. O velório começa às 7h, no Cemitério São Miguel e Almas, seguido de sepultamento no Cemitério Belém Novo (Zona Sul) às 14h.
Nascida em Pelotas (Litoral Sul) e filha de imigrantes alemães, Erika era viúva e deixa dois filhos (a também jornalista Ciça Kramer e o empresário Bernardo Kramer) além de três netos.
Ela vivia em Porto Alegre desde os 21 anos, em 1958. Cursou Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestrado em Educação à Distância, segmento que a inspirou a atuar no desenvolvimento de vários projetos com esse perfil.
Dentre os destaques de sua carreira está o engajamento ao Movimento da Legalidade, liderado em 1961 pelo então governador gaúcho Leonel Brizola para defender a posse do vice-presidente João Goulart no comando da República, após a renúncia de Jânio Quadros. Erika atuou na cadeia de rádio improvisada nos porões do Palácio Piratini, ela ajudava a transmitir notícias em alemão, idioma original de seus pais.
No currículo constam, ainda, a direção da Fundação Padre Landell de Moura e a empresa de consultoria Alternativa, que comandou até pouco tempo antes de morrer. Em 2008, recebeu da Câmara de Vereadores o título de “Cidadã de Porto Alegre”.
Memória
Em depoimento de 2011 ao site do governo gaúcho (estado.rs.gov.br) durante as comemorações dos 50 anos da Legalidade, Erika Kramer relembrou os 12 dias de agosto de 1961 em que participou da logística da resistência montada por Brizola no Piratini:
“No início, fazíamos algumas escutas dentro de ondas curtas e médias, para ver o que o mundo estava falando do movimento, recorda. Quando foi implantada a Cadeia da Legalidade, eu tinha que produzir 24 horas de programação com uma equipe de 20 profissionais de imprensa.
A equipe que trabalhava nos porões do Palácio sobreviveu com muito café, sanduíches e cigarro. Cochilávamos nas cadeiras e permanecíamos no porão por causa das tensões e ameaças de bombardeio. Mas não senti medo. Estávamos servindo a uma causa e tínhamos a solidariedade do grupo, além de um dever a cumprir. Como estudante de Jornalismo e diante daquela missão, o sono e cansaço não tinham importância.
Brizola aparecia de madrugada nos porões, fumava um cigarro, tomava um café, perguntava como todos estavam e dava apoio. Aquela sala de redação e transmissão radiofônica se tornou fonte para todos os veículos de comunicação.
Quando foi feito o acordo para Jango assumir a Presidência do País, deram-nos a ordem para descansar e nos ofereceram a residência do próprio governador, então começamos a correr para pegar as melhores acomodações. Fiquei na cama do casal, com mais dois colegas. Meia hora depois, alguém avisou que já poderíamos descansar em casa, pois estava tudo resolvido”.
(Marcello Campos)