O historiador e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) José Murilo de Carvalho, de 84 anos, morreu na madrugada deste domingo (13). Ele estava internado com covid no Hospital Samaritano. O velório será realizado na ABL na manhã desta segunda-feira (14) e o enterro será no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
Considerado um dos maiores historiadores e intelectuais brasileiros, Carvalho foi fundamental na compreensão de como os reflexos da escravidão, do colonialismo, da formação do Império e da República e da relação dos militares com o poder influenciam o Brasil de hoje. Ele era bacharel em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Ciência Política pela Universidade de Stanford (EUA), onde defendeu tese sobre o Império Brasileiro.
Também foi professor e pesquisador visitante em universidades de vários países, como Oxford (Reino Unido), Leiden (Holanda), Stanford (EUA), Notre Dame (França) e na Fundação Ortega y Gasset (Espanha). Foi também professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Eleito para a ABL em 2004, ocupava a cadeira nº 5. Autor de 19 livros, entre suas obras mais famosas estão A cidadania no Brasil e Os bestializados.
Na sua última entrevista para o Estadão, em 2022, Carvalho analisou o bicentenário da Independência do Brasil. Segundo ele, o País chegou à data sem um projeto de nação e longe da grandeza anunciada em 1500 pela natureza exuberante e sonhada no século 19 pelos que lutaram por sua separação de Portugal.
“A grandeza não passou de sonhos”, destacou o historiador. “Destruímos nosso paraíso terrestre. Nossos ares, águas, praias estão poluídas, nossas matas, destruídas, nossas terras, em perigo de desertificação, a Amazônia, ameaçada pelo desmatamento e pela mineração predatória. A grande população indígena da época da chegada dos colonizadores foi quase toda extinta. Grande parte da população ainda sofre as marcas da escravidão.”