Bruno Latour, sociólogo, antropólogo e filósofo francês, considerado um dos maiores intelectuais contemporâneos, morreu em Paris (França) aos 75 anos. O anúncio foi feito por sua editora, Les Editions La Découverte. Latour foi professor titular do Instituto de Estudos Políticos de Paris e da London School of Economics and Political Science.
“A editora La Découverte recebeu com dor a notícia do falecimento de Bruno Latour, ocorrido ontem à noite em Paris. Todos os nossos pensamentos estão dirigidos à sua família e amigos”, anunciou a editora.
O presidente francês, Emmanuel Macron, se pronunciou no Twitter e elogiou o filósofo: “um espírito humanista e plural, reconhecido em todo o mundo antes de ser reconhecido na França”.
Premiado com o Prêmio Holberg (2013) e o Prêmio Kyoto (2021) pelo conjunto da sua obra, Latour foi um pioneiro e uma das principais figuras do pensamento ecológico. Entre suas principais obras estão “A fábrica do direito. Etnografia do Conselho de Estado”, “Vida de laboratório”, “Nunca fomos modernos”, “Micróbios: guerra e paz” ‘e o mais recente “Onde estou?”, escrito em meio ao auge da pandemia de covid, que alcançou leitores além do seu público habitual.
Nascido em 22 de junho de 1947 em Beaune, em uma família de comerciantes de vinho da Borgonha, na região central da França, Latour estudou filosofia e depois se formou antropólogo na Costa do Marfim.
No final da década de 1980, tornou-se um grande defensor da teoria ator-rede, juntamente com Michel Callon e John Law. Um de seus primeiros trabalhos teóricos a chamar a atenção é “La Science en action” (“A ciência em ação”).
Latour se inscreveu em uma tradição filosófica que qualifica como não-modernidade, em oposição à modernidade e ao pós-modernismo. Chegou a desenvolver um programa de ecologia política: concebeu uma Constituição que incluía não apenas homens, mas também “não humanos” e propôs a criação de um Parlamento das Coisas, no qual os recursos naturais seriam representados por cientistas ou especialistas.
“Veem a Terra como uma babá que se preocupa e provê seus bebês humanos com o que eles precisam. Isso é perigoso. E não só pessoas comuns, mas cientistas caem nessa armadilha e a disseminam”, disse Bruno Latour em uma entrevista ao jornal O Globo.
Na ocasião, o pensador falou ainda sobre sua relação com a arte. “É preciso criar instrumentos que nos sensibilizem e que nos levem a pensar, algo que ligue as ‘estatísticas da ciência’ e formas de sensibilização ao que elas indicam”, afirmou Latour, que continuou: “Não há muita gente trabalhando para que nos tornemos mais sensitivos ao que ocorre com Gaia (que é a terra viva, um termo repensado por James Lovelock). Temos de reconstruir a nossa sensibilidade. É preciso dramatizar, considerar o fim do mundo, e então desdramatizar, para analisar criticamente a questão. Na arte, você pode fazer os dois, dramatizar e desdramatizar”.