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“Morreu metade do meu povo”, diz líder Yanomami

Davi Yanomami deixa claro que a desnutrição é consequência da invasão de garimpeiros, que contamina rios com mercúrio e prejudica a pesca. (Foto: Núcleo Audiovisual UFMG/Divulgação)

Davi Kopenawa Yanomami, o xamã que dedica a vida à luta pela preservação de seu povo e do maior território indígena do país, está de luto. Mais de 570 crianças Yanomami morreram em consequência da contaminação por mercúrio do garimpo ilegal, de subnutrição, diarreia, verminoses, doenças respiratórias e malária nos últimos quatro anos.

“Minha esperança é o presidente Lula, que, acho, está preparando o plano de retirada dos 70.000 garimpeiros da Terra Yanomami”, estima o líder indígena. “Tem que ser urgente. A doença não demora. A fome também não.”

Davi Yanomami deixa claro que a desnutrição é consequência da invasão de garimpeiros, que contamina rios com mercúrio e prejudica a pesca. O barulho dos aviões e das máquinas, e a violência do garimpo, espanta a caça e dificulta a coleta de alimentos nas roças indígenas.

“A falta de comida é doença do garimpo”, resume, indicando que o modo de vida Yanomami está sendo drasticamente afetado. “A fome não chega sozinha. A fome chega com a destruição”, diz.

“Eles são muitos, nós somos poucos. Morreu metade do meu povo”, conta, referindo-se ao impacto de invasões passadas. Davi diz que o problema não é de hoje, mas se agravou nos últimos quatro anos. “O governo Jair Bolsonaro não quis tirar, e senadores, deputados, ficaram junto com os garimpeiros”, diz. “Esse garimpo que está na terra Yanomami é obra do governo”.

“O rio é o caminho do garimpo”, diz o xamã, indicando os lugares onde a ilegalidade está mais próxima. “Passam muitas canoas, mercadoria, gasolina, comida, bebida. Entra tudo na balsa, bebidas, drogas. Foram colocando barracas na beira do rio e estragou tudo. Não é como antigamente. Parece um lixo”, resume, dizendo que o garimpo de hoje “é de gente grande, com recursos”. Denuncia ainda a presença do tráfico e a violência sexual com mulheres indígenas.

“É pouco índio que está protegendo a terra para o mundo inteiro. Sem índio, vocês vão sofrer também”, alerta. “Índio não vai morrer sozinho. Vamos morrer junto com a água, floresta, a cultura”, alertou Davi Yanomami, 66 anos, em entrevista pouco antes de embarcar aos Estados Unidos, a convite da Fundação Cartier, para a abertura da exposição “The Yanomami Struggle”, no The Shed, em Nova York.

Com curadoria do Instituto Moreira Salles, será a maior exposição sobre o trabalho e a amizade da artista Claudia Andujar com os Yanomami. “Estou preparado para falar sobre o que está acontecendo com meu povo. Muita gente quer ouvir a minha fala”, diz Davi.

Ele estará com o antropólogo Bruce Albert, com quem escreveu “A Queda do Céu”. A estadia começa pela Universidade de Princeton. Lá, serão recebidos pelo presidente Christopher L. Eisgruber e diretores de vários departamentos e institutos, como o Brazil Lab.

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