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Mundo Morte de líder do Hamas, embora seja uma boa notícia para quem repudia o terror, não elimina as ameaças existenciais a Israel, que precisa urgentemente de um plano para o pós-guerra

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Yahya Sinwar, líder do Hamas, foi morto em uma operação conduzida por militares israelenses na Faixa de Gaza.(Foto: AFP)

A confirmação da morte de Yahya Sinwar durante uma operação militar israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, foi celebrada tanto em Israel como em parte do enclave palestino – que ao longo de intermináveis anos esteve submetido às atrocidades de um dos mais sanguinários líderes do grupo terrorista Hamas, não por acaso conhecido como “o açougueiro de Khan Yunis”. A bem da verdade, todo o mundo civilizado passou a respirar melhor com Sinwar morto.

Dito isso, é certo que a eliminação de Sinwar, artífice do hediondo atentado de 7 de outubro do ano passado, o maior ataque a judeus desde o Holocausto, e por essa razão tido como o principal alvo das forças de segurança de Israel, é uma das mais importantes vitórias de Israel em Gaza, se não a mais importante, desde a operação que matou o xeque Ahmed Yassin, cofundador do Hamas, em março de 2004. Porém, esse inquestionável triunfo militar impõe uma questão fundamental ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu: Israel está mais ou menos seguro agora que Sinwar está fora do teatro de operações?

Trata-se de questão complexa, sobretudo quando se recorda que ainda há dezenas de reféns israelenses nas mãos dos terroristas do Hamas e que, se ainda estão vivos, podem ser assassinados a qualquer momento como vingança. Em relação ao futuro, parece certo que será difícil, para o Hamas, encontrar rapidamente alguém como Sinwar, dono de notórias capacidades estratégica e operacional para perpetrar um ataque como o do 7 de Outubro e, ademais, para reorganizar o grupo terrorista após a arrasadora resposta militar de Israel ao assassinato, estupro e sequestro de seus cidadãos.

Porém, como chefe de governo e suposto estadista, Netanyahu deveria estar pensando na segurança de Israel no longo prazo. E isso implica, necessariamente, o fortalecimento e a extensão das relações diplomáticas do Estado de Israel com o chamado mundo árabe – notadamente com os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Reino de Marrocos, além da Arábia Saudita – com vistas à criação de um Estado Palestino no futuro, livre do jugo dos terroristas e, sobretudo, preparado para oferecer uma vida digna aos palestinos.

No passado, Netanyahu já manifestou algum apoio à solução de dois Estados. Hoje, no entanto, esse cenário, o único com potencial para levar a uma paz duradoura no Oriente Médio, não é cogitado nem sequer como discurso pelo primeiro-ministro, dado o temor de Netanyahu de desmantelar a sua frágil coalizão de governo com os partidos da ultradireita israelense. Sem o apoio desses radicais, “Bibi” fatalmente perderia o cargo e teria de acertar suas contas com a Justiça israelense, seja pelas graves suspeitas de corrupção que recaem sobre ele, seja pelo retumbante fracasso de seu governo em garantir a segurança dos cidadãos israelenses, como ficou patente no 7 de Outubro.

Noutras palavras: a morte de Yahya Sinwar pode ser um ponto de virada crucial para a segurança de Israel e de seus vizinhos árabes ou, a depender da condução da guerra por Netanyahu daqui para a frente, pode ser mais um passo em direção ao abismo para o qual o primeiro-ministro está levando os seus concidadãos em nome de seus interesses particulares.

As condições para o pós-guerra estão dadas. A decapitação do Hamas, agora órfão de suas principais lideranças, é uma nova chance para a paz duradoura na região, para que Israel possa negociar com seus parceiros no mundo árabe a construção de um futuro de coexistência pacífica entre israelenses e palestinos, atacando as causas de fundo que levam ao terrorismo e, consequentemente, as razões para que grupos terroristas como o Hamas se reagrupem.

A morte de Sinwar, por si só, não elimina as ameaças existenciais ao Estado de Israel, em particular as que vêm do Irã. Sinwar era um indivíduo perigosíssimo, não há dúvida, mas mais letal, porém, é a ideologia que ele e outras lideranças do Hamas já eliminadas por Israel encarnavam. E tão forte seguirá essa ideologia nos corações e mentes dos palestinos quanto mais infenso à solução dos dois Estados for o atual governo de Israel. (Opinião/O Estado de S. Paulo)

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