Com déficit previsto de 6 bilhões e 800 milhões de reais, o relatório do Orçamento para 2018 foi aprovado ontem pela Comissão de Finanças, Planejamento, Fiscalização e Controle da Assembleia Legislativa. Não houve bloqueio na porta do Palácio Farroupilha, discursos na Praça da Matriz nem caminhada de protesto pelas ruas do Centro. Tudo na maior tranquilidade, como se as forças vivas da sociedade tivessem tomado uma superdose de chá de maracujá com erva cidreira.
Para desanuviar
A negativa da Secretaria do Tesouro Nacional à adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal deu gás à oposição. Na sessão plenária da Assembleia, ontem à tarde, os deputados Adão Villaverde e Tarcísio Zimmermann acusaram a Secretaria da Fazenda de manipular dados para dizer que a situação é mais grave do que a realidade. Os deputados Tiago Simon e Gabriel Souza, líder do governo, fardaram-se para cumprir o dever de defesa.
Está aberta uma crise, que pode levar a capítulos de retaliação. Afinal, quem é o mistificador?
É preciso esclarecer claramente os motivos do veto. Para isso, ninguém melhor do que o ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que estará hoje pela manhã no Palácio Piratini.
Mastigaram os dados
Em março deste ano, técnicos do Tesouro Nacional estiveram em Porto Alegre e mergulharam por vários dias na contabilidade da Secretaria da Fazenda. Só faltou dormirem no prédio da Avenida Mauá. Ficou a impressão de que saíram comovidos com a situação de dificuldades. A resposta dada em Brasília, ontem, contraria.
Terra das distorções
O rombo de 160 bilhões de reais nas contas do governo federal fica em grande parte explicado: o IBGE concluiu relatório, mostrando que a renda per capita em Brasília é de 73 mil e 900 reais, quase o dobro da média nacional. Para fazer uma comparação, em São Paulo não passa de 42 mil.
Na capital federal, onde não fabricam sequer um parafuso, ninguém fica constrangido com o dado. São Paulo concentra 30 por cento do Produto Interno Bruto e a população trabalha de sol a sol.
Ponto de aproximação
O PSOL ganha um aliado para a tese que defende há 12 anos. Análise do Banco Mundial, divulgada esta semana, aponta para a necessidade de os ricos pagarem mais impostos no Brasil.
Fim da linha
O PMDB cozinhou a senadora Kátia Abreu por mais de um ano. Ontem, a Comissão de Ética elevou a chama do fogão. A expulsão foi o preço pago por ter mantido forte vínculo de amizade com a presidente Dilma Rousseff.
Mudança não é circunstância estranha na carreira de Kátia. Começando no PPB em 1995, passou por PFL/DEM e PSD, antes de ancorar no PMDB. Vários partidos lhe estendem fichas de inscrição.
Recuo
A nomeação do deputado federal Carlos Marun para o ministério foi para o congelador. A reação negativa assustou o governo. Continuará por mais algumas semanas na Câmara, fazendo suas encenações.
Há seis meses
A 24 de maio deste ano, manifestantes depredaram oito ministérios e incendiaram dois. O episódio contra o governo terminou com 49 feridos e um baleado. O presidente Michel Temer convocou as Forças Armadas para proteger o patrimônio público.
Mesmo que tenham sido identificados, não se sabe sobre o andamento de inquéritos policiais e o ressarcimento dos prejuízos. Cabe perguntar: há medo de responsabilizar?
Conhecia tudo
Ulysses Guimarães dizia: “Em política, até raiva é combinada”.