Após as denúncias contra João Teixeira de Farias, o João de Deus, mais 25 pessoas decidiram quebrar o silêncio para relatar histórias de abuso sexual que teriam sido cometidas pelo médium. Uma mulher, de Minas Gerais, diz ter sido violentada pelo menos dez vezes quando tinha apenas 11 anos.
“Ele pediu para eu colocar a mão para trás e eu senti uma coisa estranha e comecei a chorar e disse: ‘O que é isso?’. Ele falou: ‘É o que vai te curar’. Aí, ele veio na minha frente e fez o que fez comigo. Tudo o que você pode imaginar”, disse a mulher, hoje com 41 anos. A ameaça, segundo ela, era tanto física quanto psicológica. De acordo com a mulher, ele disse: “Fica de costas, fecha os olhos e não abra em hipótese alguma. Se você abrir, vai ficar cega, porque a luz é muito forte”.
“Eu falava o tempo todo: ‘Quero a minha mãe. Tá doendo’. E ele dizia: ‘Fica quieta, senão eu mato a sua família”, lembra ela, chorando. Uma outra mulher, de São Paulo, conta que também sofreu abusos aos 15 anos. Os pais foram pedir ajuda para João de Deus porque a menina tinha depressão e não saía da cama. Na primeira consulta, João de Deus teria pedido pra ficar sozinho com a adolescente. “Com a mão dele, me fazia manipular seu pênis. De repente, pegou na minha cabeça e a abaixou para que eu fizesse sexo oral nele”.
De acordo com os relatos, os abusos aconteciam sempre dentro da casa onde João de Deus realiza os atendimentos, em Abadiânia, no interior de Goiás. Por se tratar de um figura conhecida e poderosa, inclusive entre famosos, as mulheres tinham medo de serem punidas se contassem o que acontecia na sala de cura. “Não falei com ninguém porque achava que ninguém iria acreditar em mim, porque ele é muito poderoso”, diz a mulher de São Paulo.
De todas as pessoas que relataram seus casos, apenas a coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous se identificou. No Brasil, até agora o único que se identificou foi Leandro Cruvinel Miranda. Ele procurou o programa “Fantástico”, da TV Globo, para contar os abusos que sua mãe, Simone, de 52 anos, sofreu ao buscar por causa de um câncer de mama. “A esperança dela era ser totalmente curada espiritualmente pelo João de Deus”, conta Leandro.
Segundo ele, a mãe lhe contou que o médium abriu a calça e tirou o pênis, enquanto ela estava de costas sem ver. Depois, tentou colocar a mão dentro de sua calcinha. “A minha mãe começou a se alterar muito, quando ele se desesperou e disse para ela ficar calma, que não aconteceria mais”.
Em Goiás, mais dois casos vieram à tona. Em um deles, uma mulher foi a Abadiânia para pedir ajuda para a mãe que estava com câncer. “Ao chegar, ele começou a esfregar e mandar eu rebolar. E começou a querer enfiar a mão na minha calça, nas minhas partes íntimas. Eu não deixei e relutei. Eu tremia e falava para ele parar porque estava com muito medo. Isso foi em 2006”. A mãe dela morreu dois meses depois. “Nós estamos pensando em ir esta semana prestar queixa contra ele, na cidade onde atua”, afirma.
No segundo relato, assim como no caso da adolescente de Minas, a paciente diz ter sofrido abusos por cinco dias seguidos e ainda ter sido ameaçada. “Ele aproveita que as pessoas estão fragilizadas, doentes, no fundo do poço. Pegava nos meus seios, sempre de costas e encostava o pênis dele no meu bumbum, pegava a minha mão e apertava o pênis dele. Também desabotoou minha blusa e segurou no bico do meu seio”, lembra-se.
O medo a fez não ter falado nada e voltado durante cinco dias: “Ele disse que sabia onde meus avós moravam, assim como toda a família. Dizia que mataria cada um deles. Foi esse medo que me fez voltar os outros dias”.