Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de dezembro de 2018
Na esperança de ajudar a mãe com uma doença degenerativa, uma mulher de 46 anos, que prefere não ser identificada, reuniu um grupo de amigos para ir a Abadiânia (GO), em busca dos tratamentos oferecidos pelo médium João de Deus. Era a primeira semana de dezembro de 2014. Ao chegar na “triagem” da Casa Dom Inácio de Loyola, ela recebeu um bilhete, que a convidava para uma sessão pessoal. O que não esperava é que, neste encontro, ela sofreria abuso sexual.
“Ele não chama uma pessoa em fase terminal, ele não chama um homem. As vítimas são escolhidas a dedo, são selecionadas. E você se sente coagida.”
Após os relatos exibidos pelo programa “Conversa com Bial” e pelo jornal “O Globo”, em que 13 pessoas contaram terem sofrido abuso de médium, dezenas de outras mulheres relataram o mesmo tipo de crime. O Ministério Público planeja uma força-tarefa para investigar o médium, já que mais de 200 casos chegaram ao conhecimento do órgão, segundo a promotora Gabriela Manssur, de São Paulo.
A defesa dele nega as acusações. Advogado do médium afirma que ele irá colaborar com as investigações e está à disposição da Justiça.
Relato
A mulher conta que chegou à cidade do interior de Goiás com os amigos na noite anterior ao atendimento. Ela chegou às 7h na Casa onde o médium atende.
“Quando nós chegamos, ela tava lotada. E toda aquela magia, aquela coisa, o mesmo propósito da fé. A gente começou a escutar os relatos: meu filho foi curado pelo João, minha mãe tava quase morrendo e o João salvou, meu irmão estava acamado e ficou bom. Então, aquilo dava aquela esperança para nós”.
Após passar por uma espécie de triagem com João incorporando o espírito de Dom Inácio de Loyola, ela contou seu problema e recebeu um bilhete do médium.
“Quando chegou a minha vez de passar por ele, ele rabiscou um papel e falou assim: ‘Vai falar com o João’. Não entendi nada. Ele passou para uma moça, uma assistente dele e falou assim: ‘você vai para a energização, um lugar que você passa energia para as pessoas que você tá precisando e, depois dessa energização, vai falar com João.”
Depois da sessão, ela diz que seguiu para a fila na porta da sala de João de Deus.
“Chegando lá, tinham umas pessoas na frente para falar com ele. Quando ele abriu a porta, ele olhou pra mim e mandou entrar. Era uma sala relativamente grande, tinha um sofá, uma cristaleira com alguns cristais. Ele me perguntou o que me trazia à Casa. Eu falei pra ele que vim aqui por conta da minha mãe, que tem uma doença degenerativa nas pernas, e pro senhor me ajudar com a cura dela”.
Foi aí que o abuso aconteceu. “Aí ele olhou bem pra mim e me levou para o banheiro. Me mandou fechar os olhos. Perguntou se eu tinha fé. Eu falei assim: ‘Fé é o que eu mais tenho’. Eu estava com os olhos fechados e ele colocou a minha mão na barriga dele, já perto do órgão dele. Ele respirava muito ofegante. Até que eu senti que ele havia colocado o pênis dele para fora e ele colocou a minha mão no pênis dele e ficou manipulando”.
“Aquilo na minha cabeça não tinha muita lógica. Porque que, para curar a minha mãe, eu tinha que fazer aquilo. Na hora veio na minha cabeça que eu era casada, na época, tinha as minhas filhas. Foi aí eu falei pra ele que não tava me sentindo bem. Saímos do banheiro. Começaram a bater na porta da sala e ele não respondeu”, conta.
Neste momento, ela afirma que o médium ofereceu um cristal de um armário, com a justificativa de que seria a forma dela de se conectar com ele, enquanto estivesse longe. Ela guarda a pedra em casa até hoje, como prova do abuso que sofreu.