Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 7 de junho de 2018
ilhares de mulheres saíram mais uma vez, nesta quarta-feira, às ruas em várias cidades no Chile para reivindicar uma educação não sexista e igualdade de gênero, no âmbito de uma revolução cultural que parece ter vindo para ficar.
Com o lema “Precarização vivemos todas: às ruas estudantes, migrantes, mães e trabalhadoras”, o movimento pretende abarcar metade da sociedade que se sente vítima do machismo e da desigualdade e não só se limitar às salas de aula dos centros educativos.
Com slogans como “Necessita-se de forma urgente uma educação feminista e dissidente” e “Não nasci mulher para morrer por isso”, a marcha transcorreu em um ambiente festivo na principal artéria da cidade, a Avenida Libertador O’Higgins, sob o olhar de dezenas de policiais.
“Recebemos o apoio de grande parte da sociedade, das mulheres (…). O feminismo sempre vai incomodar os homens porque lhes questiona”, disse Amanda Mitrovic, dirigente da Coordenadoria Feminista Universitária (Confeu).
A centelha feminista se propagou no Chile em consequência da condenação pela Justiça espanhola, no fim de abril, a nove anos de prisão por abuso sexual a cinco homens acusados de estuprar uma jovem na Espanha, no caso conhecido como “La Manada”.
Desde então, mais de 20 universidades foram ocupadas por estudantes que reivindicam uma educação não sexista e o fim dos estereótipos culturais que depreciam a mulher.
“Esta mobilização explodiu na cara de todos, porque havia muito ressentimento, muita história por trás acumulada”, afirmou Araceli Farías, vice-presidente da Federação de Estudantes da Universidade Católica. Segundo a Prefeitura de Santiago, cerca de 15 mil pessoas compareceram à marcha.
O governo do conservador Sebastián Piñera anunciou no fim de maio uma Agenda Mulher com 12 pontos para tentar reduzir a brecha entre homens e mulheres, entre eles uma reforma da Constituição para garantir “a plena igualdade de direitos”.
Mas a maioria das jovens que lideram este movimento feminista sentem que a medida é insuficiente porque o presidente não recebeu as representantes das confederações estudantis para dialogar, e em suas intervenções públicas não se referiu à educação não sexista nem falou da mudança social e cultural.
“A educação não sexista é a primeira mudança que devemos fazer para uma mudança social e cultural!”, exclamou Mitrovic, acrescentando que a mudança deve acontecer “desde as bases”. “É um problema sistêmico. Acreditamos que os professores devem ser educados para que tenham uma perspectiva de gênero.”
Desigualdade de gênero
Um estudo realizado pelo Banco Mundial estima que a desigualdade entre os salários pagos para homens e mulheres custa US$ 160 trilhões à economia global. Esse valor representa a diferença entre a renda durante a vida inteira de toda a força de trabalho pelo cenário atual, conceito conhecido como riqueza de capital humano, e se as mulheres recebessem o mesmo salário que os homens.
“A mensagem importante é que todos se beneficiariam dos maiores salários, não apenas as mulheres”, afirmou o autor do relatório, Quentin Wodon. “Porque quanto maior o padrão de vida, menor a pobreza no lar, e desde o nível da família até o país como um todo, há enormes benefícios a serem alcançados com a igualdade de gênero.”