Segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de julho de 2022
“Que mulher linda!” Não faltam elogios às fotos da maquiadora Gislaine Pimentel, de 45 anos, no seu perfil do Instagram, Grisalha Natural (@grisalheieagora), com 11 mil seguidores. Dona de longos cabelos brancos, ela conta que muitas pessoas mandam mensagem – ou até a param na rua – para perguntar sobre os cuidados que ela tem com os seus fios platinados.
Percebendo a demanda do mercado publicitário por pessoas grisalhas, ela começou a trabalhar como modelo. “Gosto de estar em evidência como modelo e intensificar essa influência de que é possível ser quem você é, com o cabelo natural, sem a química”, diz.
Na sociedade brasileira, em geral, ainda há preconceito contra a mulher que assume seus cabelos brancos, na percepção de Gislaine. “Infelizmente, associam o cabelo branco ao desleixo e à falta de cuidado da mulher. Hoje me aceitam, mas quando resolvi parar de pintar os meus cabelos, em 2014, ouvi pessoas dizerem que eu não podia fazer isso”, lembra. Para Gislaine, o cabelo branco representa a liberdade. “É ótimo poder ser como eu sou, natural. Mas essa é uma atitude minha, que não quero impor a outras pessoas”, pondera.
Atrizes, modelos no Brasil e no mundo há alguns anos apontaram a tendência, que se intensificou na pandemia por conta do isolamento social. O cabeleireiro Gil Scawia, que trabalha na rede Jacques Janine, em São Paulo, percebe esse aumento de interesse das suas clientes em assumir os cabelos brancos nos últimos anos, mas ao mesmo tempo um medo de parecerem “velhas”.
“Mesmo com a inspiração das mulheres famosas, o cabelo grisalho ainda está restrito mais às mulheres que trabalham com moda, arte, e que sejam muito seguras de si”, observa. “Aqui no Brasil, o homem grisalho é considerado charmoso, mas a mulher de cabelos brancos é vista como descuidada”, avalia.
Quando uma cliente quer fazer a transição para o visual grisalho e fica incomodada com o visual do cabelo só com a raiz branca, Scawia sugere o uso de chapéus, lenços e outros acessórios, enquanto espera que ele cresça para cortar e deixar a sua cor uniforme. “Mas a mulher brasileira costuma ser imediatista e geralmente pede para fazer mechas platinadas. Nesse caso, para causar menos danos eu recomendo que sejam feitas em etapas, intercaladas por reconstrução capilar.”
A fase de transição para o cabelo grisalho da dona de casa Elizabete Castro Antunes, de 43 anos, foi mais demorada do que ela esperava. Ela parou de pintar o cabelo em setembro de 2018 e foi fazendo os cortes nos seus cachos para diminuir a diferença da cor da raiz para as pontas dos fios, mas, no fim de 2019, a tintura ainda não tinha sido completamente eliminada.
“Como sou desencanada, deu certo. Mas o mundo inteiro me criticou. Escutei que aquilo me envelheceu 10 anos, que eu estava louca. Teve até um senhor que eu não conhecia, numa fila do supermercado, que disse que eu não tinha idade para ter esse cabelo”, conta. Com apoio do marido e da mãe, ela seguiu em frente. “Comecei a publicar fotos no Instagram, para mostrar que estava ficando bom”, recorda a dona de casa.
A partir daí, Elizabete, mais conhecida como Bete, passou a cuidar mais de sua aparência, a caprichar na maquiagem e nas roupas. “Comecei a usar mais salto, roupa justa, ganhei autoestima. Comecei a receber dúvidas de mulheres interessadas em fazer a transição para o grisalho”, explica ela, que hoje tem 17 mil seguidores no seu perfil no Instagram.
Nas suas publicações, ela fala dos cuidados que tem com os cachos platinados, que considera “rebeldes”. “Toda semana faço um tratamento de umectação. Cuido para não usar secador em excesso, uso protetores térmicos e um chapéu quando saio ao sol”, ressalta.
Antes de assumir os fios brancos, além de tingir os cabelos, Bete alisava com a escova progressiva. “Comecei a me incomodar com o cheiro dos produtos químicos e resolvi parar de alisar. Na sequência, achei que deveria parar de pintar os cabelos também.” Bete começou a tingir seus cabelos brancos com 20 anos. “Puxei à minha mãe, que tem cabelo branco desde nova.”
Genética
A genética é um dos fatores que influenciam a idade de surgimento dos cabelos brancos, afirma a dermatologista e tricologista (especialista em cabelo) Juliana Annunciato. “Para ter uma ideia da idade em que você terá cabelos brancos, veja se você puxou a textura e o tipo de fio do seu pai ou da sua mãe e pergunte com quantos anos eles ficaram grisalhos, pois provavelmente será igual para você”, ensina.
Outro fator que influencia o surgimento dos brancos é a qualidade de vida. Padrão de sono ruim, má alimentação, tabagismo e estresse aceleram o branqueamento dos cabelos. “Teve gente que percebeu o aumento de cabelos brancos durante a pandemia e isso se deve ao estresse”, esclarece.
A dermatologista explica que doenças agudas como a covid-19 também podem dar um “susto” no melanócito, célula que produz a melanina, pigmento usado no cabelo. “O melanócito suspende temporariamente a produção de melanina. Por isso, alguns pacientes com covid-19 ficaram com uma faixa de cabelo branco que depois voltou a escurecer”, observa.
Mas, com o avanço da idade e o envelhecimento celular, o que ocorre é que esses melanócitos diminuem a produção de melanina e morrem, sendo substituídos por queratinócitos, que produzem a queratina, proteína que dá resistência a unhas, pele e cabelo. “Por isso o cabelo branco costuma ser mais rígido e grosso”, analisa Juliana. Mas ela esclarece que, nesse caso, não há como reverter o processo de branqueamento dos cabelos.