Tanto a Câmara dos Deputados como o Senado nunca tiveram uma presidente mulher em toda a sua história. No Senado, até mesmo postulantes ao comando da Casa são raras. A primeira candidata a disputar foi a então senadora Simone Tebet (MDB), em 2021.
As mulheres também têm dificuldade para assumir vaga de titular na Mesa Diretora. Atualmente, não há nenhuma mulher no Senado. Na Câmara, apenas a deputada Maria do Rosário (PT-RS) integra a composição.
“Como a Câmara é uma Casa pautada pelo colégio de líderes partidários, o fato de as mulheres não estarem nas lideranças dos partidos estabelece um bloqueio para a participação na estrutura diretiva de ambas as Casas”, disse Rosário.
Dos quatro candidatos colocados na disputa que ocorrerá em 2025 para suceder a Arthur Lira (PP-AL), Marcos Pereira (Republicanos-SP) está à frente da vice-presidência da Câmara, enquanto Elmar Nascimento (União-BA), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) são líderes de suas bancadas.
Um dos principais nomes da bancada feminina, a deputada Soraya Santos (PL-RJ) admite dificuldades de articulação do grupo por uma candidatura feminina. Na visão dela, isso ocorre porque as negociações tendem a priorizar questões partidárias em detrimento de outros critérios, entre eles, o gênero. Apesar disso, Soraya, que já foi primeira-secretária da Casa, destaca que a composição da direção da Câmara tem ficado mais diversa nos últimos anos e vem contando com maior participação feminina.
Na avaliação de parlamentares mulheres, a presença feminina nos principais cargos da Casa deve aumentar conforme a participação de mulheres na política crescer. Atualmente, as mulheres ocupam 18% das cadeiras do Congresso Nacional.
Primeira mulher a disputar uma vaga à presidência da Câmara, em 2013, e a ocupar um lugar de titular na Comissão Diretora da Casa, em 2011, a ex-deputada e ex-senadora Rose de Freitas (MDB-ES) destaca que só conseguiu espaço porque enfrentou o seu próprio partido. “O propósito era exatamente conquistar espaço para as mulheres. Mas isso já era uma coisa difícil, principalmente em função da supremacia masculina nas duas Casas e na política como um todo. É uma cultura secular de desigualdade e machismo”, avaliou Freitas.
“Eu tive a ousadia de dizer: ‘ei, não pode ser sempre assim, também tem mulher no Congresso’”, acrescentou a ex-senadora.
A advogada Denise Dourado Dora, especialista em direito das mulheres, diz que, independentemente das chances de vitória, a articulação de uma candidatura feminina à presidência do Senado marca uma posição importante em um ambiente pouco ocupado por mulheres em comparação à estrutura demográfica do país, em que elas são maioria.
“Em nenhum momento, em nenhuma luta, alguém disse ‘ah, vamos que vocês têm chance de ganhar’. Nunca aconteceu. Quando as sufragistas foram às ruas para defender o direito a voto, elas foram taxadas de loucas, histéricas, foram presas. O rumor no Congresso Nacional de que elas não têm a menor chance é uma repetição histórica do desestímulo às mulheres na política”, afirmou Dora.
Professora da Universidade de Brasília (UNB), Flávia Biroli vê uma simbologia importante na união de duas mulheres de campos políticos diferentes para concorrer ao comando do Senado. Apesar disso, ela vê dificuldades do ponto de vista político.
“Há um gesto simbólico de uma afirmação que é importante. ‘Olha, está vendo? Temos que falar com mulher porque nós somos parte de um grupo que tem sido sistematicamente limitado na sua atuação na Casa’. Mas da perspectiva da competição dentro da Casa, uma candidatura se constrói a partir de um certo campo político”, pontuou a professora.
Ela projeta que muitos parlamentares irão publicamente endossar o nome de uma possível candidata mulher, mas não acredita que isso vá se converter em votos de fato. “Afinal, quem é que não vai apoiar a ideia de uma mulher ter a possibilidade de se tornar presidente do Senado? É muito fácil fazer um gesto simbólico, sem apoio de fato.”