Terça-feira, 04 de março de 2025
Por Redação O Sul | 30 de novembro de 2018
Mulheres que comandam administrações municipais no Brasil têm escolaridade superior aos homens, a maioria acumulou experiência em outros cargos eletivos antes de chegar à prefeitura e 70% delas já ocuparam cargos na administração pública, o que indica conhecimento de gestão. Ainda assim, o País tem apenas 12% de suas cidades governadas por mulheres e só 7% da população brasileira vive em municípios que elegeram prefeitas.
O diagnóstico é apresentado pela pesquisa “Prefeitas do Brasil (20162020)”, realizada pelo Instituto Alziras. O mapeamento ajuda a compreender a difícil trajetória das mulheres na política para alcançar postos de poder tradicionalmente ocupados por homens no Brasil.
O futuro presidente Jair Bolsonaro promete formar uma equipe de 20 ministros e já anunciou 16 deles, sendo apenas uma mulher até o momento, para dar um exemplo mais marcante dos obstáculos enfrentados para obter espaço em um círculo eminentemente masculino.
A pesquisa, divulgada neste mês, começou a ser feita em maio deste ano, durante a Marcha dos Prefeitos a Brasília. As prefeitas responderam a algumas perguntas pessoalmente e complementaram as informações completando questionários enviados por links no WhatsApp. Das 649 prefeitas eleitas em 2016, 314 responderam aos questionários do instituto. Por critérios estatísticos de extrapolação, os dados foram projetados para todo o País, com margem de erro de 5%. Algumas prefeitas se recusaram a responder e outras não enviaram as respostas.
O instituto é uma organização sem fins lucrativos, criada com o objetivo de fortalecer mandatos e candidaturas de mulheres no Brasil, e reúne profissionais egressos de várias instituições acadêmicas, como a Fundação Getulio Vargas e a Universidade Federal do Rio.
“As mulheres não estão fora da administração pública, mas o difícil é chegar aos principais postos de poder dominados por homens”, define a cientista política Michelle Ferreti, do instituto.
Segundo ela, uma das conclusões importantes da pesquisa foi apontar que 91% das prefeitas se elegeram em cidades com até 50 mil habitantes, o que leva a uma hipótese: “As mulheres têm muita dificuldade para conseguir recursos financeiros para campanhas, e as estruturas de poder são muito mais complexas nos grandes centros”.
As mulheres têm mais experiência em gestão, mais estudos e um perfil de liderança superior ao dos prefeitos, indica a pesquisa. Enquanto 50% dos prefeitos têm curso superior, o percentual sobre para 71% no caso das mulheres, sendo que, entre elas, 42% das prefeitas também fizeram pós-graduação. Além disso, 70% já ocuparam cargos públicos e 60% das entrevistadas já tinham ocupado outro cargo eletivo antes de 2016.
O assédio e a violência política, aliados à dificuldade de obtenção de recursos para financiar as campanhas — muitas vezes vetados pelo próprio partido, que privilegia os candidatos homens —, são apontados pelas prefeitas como as principais dificuldades para seguir a carreira. Curiosamente, só 56% delas pretendem concorrer a novas eleições no futuro. “O mundo político é muito agressivo com as mulheres”, diz Ferreti. Questionadas se já sofreram algum tipo de assédio ou violência política, 53% disseram que sim, mas o percentual aumenta significativamente quanto menor a idade: entre as prefeitas abaixo de 30 anos, 91% admitem já terem sido vítimas de tais situações.
Segundo Michelle Ferreti, as pesquisas do Instituto Alziras visam auxiliar as mulheres a competir cada vez mais em condições de igualdade com os homens na política. “Não adianta falar em termos mais mecanismos para as mulheres entrarem na política se não temos como proteger essas mulheres”, alerta a pesquisadora.