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Mulheres têm menos chances de contrair o coronavírus

Estudo realizado no Brasil avaliou quase 2 mil casais em que apena um cônjuge se infectou. (Foto: EBC)

Um estudo científico realizado no Brasil aponta que as mulheres têm menos chances de contrair o coronavírus. Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Instituto do Coração (Incor) avaliaram aproximadamente 2 mil casais em que apenas um dos cônjuges foi infectado.

Dentre as constatações está a de que, normalmente, as mulheres se mostraram mais resistentes e não se contaminaram, mesmo quando o marido com quem convivem diariamente contraiu o vírus.

De acordo com a geneticista Mayana Zatz, da USP, foi descoberto que os indivíduos do sexo feminino possuem maior resistência genética:

“Descobrimos que há um grupo de genes ligados ao sistema imunológico que estava diferente nos infectados e que esse gene tem a ver com as respostas, um gene que chamamos de ‘assassinos naturais’ que nos defendem quando temos uma infecção”.

Ela explicou, ainda, que a pesquisa foi feita com material genético de infectados pela primeira variante do coronavírus e antes de ser iniciada a campanha nacional de vacinação, em janeiro de 2021.

Pesquisa anterior

No ano passado, uma outra pesquisa desenvolvida por equipe da USP junto a mais de 1,7 mil casais ao longo de 12 meses indicou que, em 63,5% das situações em que tanto marido quanto mulher se infectaram pelo coronavírus, foi o homem quem levou o vírus para dentro de casa.

O novo estudo, porém, indica que existe um fator biológico que os torna mais propensos a transmitir o Sars-CoV-2, não apenas contrair. E a diferença observada no estudo não pode ser desprezada: dentre os casais “concordantes” (duplamente infectados), as mulheres foram responsáveis por 36,5% dos casos de transmissão ao companheiro, o que sugere que os homens são 1,7 vezes mais infecciosos que elas.

Maior letalidade

Também já se sabe que, do ponto-de-vista estatístico, a covid mata muito mais homens que mulheres. E ainda não está muito claro o motivo pelo qual isso acontece. A idade avançada é um dos principais fatores de risco, mas a mortalidade entre homens idosos é duas vezes maior que a das mulheres da mesma idade.

Isso acontece com muitas outras doenças e se deve em parte a fatores externos de comportamento e estilo de vida. Mas ainda assim a diferença é tão brutal que deve haver algo mais. E tem: gênero biológico, afinal as diferenças entre os gêneros vão muito além dos órgãos sexuais.

O sexo biológico tem influência decisiva no funcionamento do sistema imunológico, algo observado tanto em animais quanto em humanos. Em geral, as mulheres têm sistemas imunológicos mais eficazes do que os homens.

Por exemplo, as mulheres geram mais imunidade contra a gripe do que os homens depois da vacinação, enquanto os homens com HIV tendem a ter uma carga viral maior do que as mulheres infectadas, conforme destacam imunologistas da Universidade de Yale (EUA) em artigo publicado na revista “Science”.

Essa força imunológica ocorre desde os primeiros meses de vida: as meninas são muito mais resistentes do que os meninos a infecções, guerras, fome e outras calamidades.

Tudo isso é importante porque a morte por covid não se deve tanto ao coronavírus quanto à reação disfuncional do próprio paciente. Dias após a infecção, há pessoas que começam a produzir grandes quantidades de proteínas inflamatórias que, em tese, deveriam alertar as tropas de elite do sistema imunológico.

Mas essa sobrecarga inflamatória acaba colapsando as defesas e dinamitando o funcionamento dos pulmões. É a agora famosa “tempestade de citocinas”, em alusão às moléculas inflamatórias que podem agravar a doença até a morte.

O mais interessante é que a produção dessas moléculas é muito mais comum nos homens do que nas mulheres, principalmente nas idades avançadas. Além disso, os homens idosos geram menos linfócitos “T” capazes de identificar e destruir células infectadas.

E há apenas alguns meses um estudo mostrou que alguns pacientes com covid geram anticorpos defeituosos que pioram seu estado e podem causar a morte. É como se o sistema imunológico masculino na velhice colocasse obstáculos a si mesmo.

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