Domingo, 17 de novembro de 2024
Por Norberto Soares Paiva | 28 de outubro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O Mundo está acompanhando com certa apreensão os acontecimentos na região da Faixa de Gaza. Somente quem passou por um conflito armado tem condições de descrever com autoridade os horrores de uma guerra.
Um fato desconhecido e porque não dizer esquecido por quem é de direito, foi quando em junho de 1967 em Missão de Paz a Força de Emergência da Organização das Nações Unidas – UNEF, enviadas ao Oriente Médio pelo Brasil a Tropa de militares do 20º Contingente do extinto Batalhão de Suez, foi envolvida involuntariamente na Guerra dos Seis Dias, um conflito armado entre o Estado de Israel e a República Árabe Unida (RAU), composta pelo Egito, Síria e Jordânia. Essa guerra relâmpago ficou conhecida posteriormente como a “Guerra dos Seis Dias”.
Na composição dos contingentes de militares que atuaram na Faixa de Gaza no período de 1956 à 1967, sob coordenação das Nações Unidas (ONU) o Brasil contribuiu com 20 contingentes, os quais na sua formação os militares da graduação de cabo e soldado eram reservistas de primeira categoria e apresentavam-se como voluntários, já os oficiais, suboficiais e sargentos eram militares na ativa, e quando no seu retorno foram avaliados e permaneceram nas suas Unidades Militares.
O Congresso Nacional aprovou, nos termos do Art. 86, item III, da Constituição Federal, combinado com a Lei n º 2.953, do dia 17 de novembro de 1956, e promulgou o decreto governamental nº 61 onde autorizava o Presidente da República a contribuir com um contingente militar para formação ou integração da Força Internacional de Emergência.
O Ministro da Guerra, Marechal Henrique Teixeira Lott, incumbido da tarefa pelo então presidente Juscelino Kubitscheck, determinou que o comandante da 1ª Divisão de Infantaria ativasse o III Batalhão do 2º Regimento de Infantaria (o 2º R.I.), que na época, possuía somente dois batalhões, sediados na cidade do Rio de Janeiro. Após ser constituída, a unidade recebeu autonomia administrativa, sob a Portaria nº 197 do Exército Brasileiro (EB), em vinte de novembro de 1956, e tornada efetiva em quinze de dezembro do mesmo ano. Passava a existir, de fato, o III/2º R.I. (Terceiro Batalhão do Segundo Regimento de Infantaria) na Vila Militar, em Deodoro no Rio de Janeiro. Assim como os 5.075 soldados Expedicionários da FEB que também eram voluntários, sendo que estes foram devidamente assistidos pelo governo no seu retorno ao Brasil, diferentemente dos integrantes do conhecido Batalhão Suez, os quais não tiveram essa mesma atenção e continuam abandonados pelas autoridades civis e militares num progressivo esquecimento social destes, também expedicionários.
As missões dos integrantes da Força de Emergência da Organização das Nações Unidas – UNEF ou: United Nations Emergency Forces, foram enviadas ao Oriente Médio pelo Brasil e Canadá, Suécia, Noruega, Dinamarca, Iugoslávia e Índia.
A missão era a de patrulharem às fronteiras entre o Egito (território Palestino) e Israel na Faixa de Gaza e garantirem o Cessar-fogo determinado pela ONU como resultado da guerra ocorrida no ano de 1956. Para tanto, foi escavada uma Linha de Armistício entre os dois países, a mesma se estendia por mais de 70 quilômetros no deserto do Sinai. Cada país, entre as sete nações representadas pelos Boinas Azuis, patrulhava as fronteiras entre os dois países de forma a manter o distanciamento e a paz entre as partes conflitantes.
Essa linha era muito frágil em termos de controle absoluto. Terroristas árabes, conhecidos como Fedayins, buscavam atravessar, às escondidas. a linha de armistício, com o intuito de colocar explosivos em Israel. Enfrentamentos eram corriqueiros na fronteira. Portanto, a missão do Batalhão Suez era a de contenção de exércitos beligerantes objetivando a manutenção da Paz! Vale informar que o Exército de Israel não reconhecia a Força Internacional, porém, eram amistosos com nossas tropas. Na Missão UNEF ficou marcante a situação do último (20º Contingente) quando na sua atividade em missão foram involuntariamente envolvidos no conflito armado conhecido como Guerra dos Seis Dias, cujas razões táticas e estratégicas desta guerra, levaram a um impacto direto sofrido pelo batalhão brasileiro nas ações militares entre Egito e Israel. A causa que tornou o 20º Contingente alvo direto dos fogos cruzados foi a localização na cidade de Rafah do acantonamento da tropa brasileira. Rafah fica junto da fronteira entre Israel e Egito.
É também a porta de entrada da Faixa de Gaza, abre caminho para a Península do Sinai e é o ponto inicial na direção do Canal de Suez. Historicamente, a principal direção estratégica para o emprego de forças militares na Península do Sinai sempre foi o eixo rodoferroviário Rafah-El-Arish-Suez, que costeia o Mar Mediterrâneo. É esse o melhor caminho para operação de guerra naquela região. Os exércitos beligerantes usaram a tropa brasileira como escudo, criando assim as melhores condições para tomar as suas posições no terreno, antes e no início da guerra, com isso o impacto sofrido por nossa tropa foi extremamente violento.
O drama enfrentado pela tropa brasileira que encontrava localizada no corredor da entrada da guerra e na condição de escudo, enfrentou momentos terríveis.
Nesse 05 de junho de 2023, precisamente as 07:45, completou 56 anos em que o 20° Contingente do Batalhão SUEZ envolveu-se involuntariamente neste conflito armado.
Essa guerra relâmpago ficou conhecida posteriormente como “Guerra dos Seis Dias”.
A razão disso é que, tendo Israel assumido a indiscutível supremacia já nas primeiras horas do dia 05 de Junho, onde sua força aérea conseguiu apoiar a intensidade dos avanços de suas tropas terrestres. A República Árabe Unida (RAU), composta pelo Egito, Síria e Jordânia, inferiorizada por estar sem apoio aéreo, reagiu como pôde ao avanço inimigo, ocorrendo, então violentos combates na Faixa de Gaza, exatamente no ponto onde estava o efetivo do 20º contingente.
Apesar da extinção da Força da ONU, 20 dias antes do início dos conflitos, os militares não foram retirados do local que ocupavam na Faixa de Gaza em tempo hábil, e o envolvimento na guerra foi inevitável para os brasileiros deste Contingente, fato que modificou profundamente a história da vida pessoal de grande parte deles.
Em maio de 1967, após a solicitação do Presidente Gamal Abdel Nasser, para a retirada das Forças de Paz do território Egípcio, fez com que o 20º Contingente, que estava como parte integrante da UNEF, ficasse exposto na condição de “Tropa Brasileira em Território Alheio”.
Dessa forma, não se caracterizava mais a Missão de Emergência.
A partir desse momento nossa relação estava ligada somente com o Brasil, ao qual caberia a providência imediata de nossa retirada da região conflitada.
Com a preocupação do resgate de seus militares, o Ten. Cel. Wilson Figueiroa Nepomuceno da Silva (Cmt. do 20º Contingente da tropa brasileira), determinou ao Major Luiz Carlos Porto Alegre Rosa (Oficial de Relações Públicas) a procurar apoio junto as Embaixadas Brasileiras, na intenção de agilizar a evacuação do efetivo diante da gravidade da situação em que se encontrava a tropa brasileira.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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