A Europa e os EUA correm o risco de entrar em uma guerra nuclear porque não estão dialogando o suficiente com a Rússia e a China. A declaração é do conselheiro de segurança nacional do Reino Unido, Stephen Lovegrove, para quem as potências rivais se entendiam melhor durante a Guerra Fria (1947-1991), e que a falta de diálogo hoje tornou mais prováveis erros de avaliação.
Ele acrescentou que o mundo vive uma “nova era de proliferação”, na qual armas perigosas estão mais facilmente disponíveis.
Nos próximos dias, ainda sem data confirmada, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping, devem conversar por telefone. Será a primeira ligação entre os dois líderes desde março.
Eles devem discutir as tensões sobre Taiwan e sobre tarifas impostas por Donald Trump sobre as importações chinesas.
Lovegrove deu uma palestra no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, capital dos EUA, com foco nas implicações da invasão da Ucrânia pela Rússia e o que ele chamou de “uma disputa muito mais ampla se desenrolando sobre a ordem sucessora à ordem internacional pós-Guerra Fria”.
Ao longo das décadas da Guerra Fria, declarou o conselheiro de segurança nacional do Reino Unido, as potências ocidentais se beneficiaram de negociações que “melhoraram nossa compreensão sobre a doutrina e as capacidades soviéticas — e vice-versa”.
“Isso nos deu um nível mais alto de confiança de que não erraríamos nosso cálculo, nos conduzindo a uma guerra nuclear”, disse Lovegrove.
“Hoje, não temos os mesmos fundamentos com os outros que podem nos ameaçar no futuro — em especial a China. A confiança e a transparência construídas por meio do diálogo também nos permitem ser mais ativos em denunciar maus comportamentos.”
Lovegrove disse que o risco de um “conflito descontrolado” estava sendo aumentado por repetidas violações da Rússia a tratados, bem como pelo ritmo de expansão do arsenal nuclear da China e seu aparente “desdém” por acordos de controle de armas.
Ele também falou do perigo associado ao rápido avanço da tecnologia e do número de governos que agora desenvolvem armas, como mísseis de cruzeiro de ataque terrestre.
O onselheiro de segurança nacional do Reino Unido afirmou que “não há perspectiva imediata de todas as grandes potências se unirem para estabelecer novos acordos”, de modo que as potências da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidenal) podem se concentrar no “trabalho de redução de riscos estratégicos”.
“Devemos tomar medidas precoces para renovar e fortalecer as medidas de construção de confiança para… reduzir, ou mesmo eliminar as causas da desconfiança, medo, tensões e hostilidades”, disse ele.
“[Tais medidas] ajudam um lado a interpretar corretamente as ações do outro em uma situação pré-crise por meio de uma troca de informações confiáveis e ininterruptas sobre as intenções de cada um.
“A confiança cresce quando os Estados são abertos sobre suas capacidades e planos militares.”