Quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de abril de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Uma parte não negligenciável da imprensa brasileira, assim como um monte de gente que espalha fake news pelo “zap-zap”, anseia por notícias especulando sobre algum tipo de enriquecimento ilícito do ex-presidente Lula ou de alguém de sua família. Infelizmente, esse é um dos principais fatores que nutre o sentimento de “raiva anti-petista”, provocando imenso estrago à democracia do nosso país.
Marisa: R$ 26.281
A última dessas notícias falsas se deve a um juiz de primeira-instância de São Bernardo do Campo, Carlos Lisboa. A partir de uma interpretação estranhamente equivocada, lançou a suspeita de que a falecida esposa de Lula, Marisa Letícia, teria uma aplicação bancária no valor de 256 milhões de reais. A informação logo foi desmentida: eram 26 mil. O juiz sugeriu um valor 10.000 vezes maior. Entretanto, a “notícia” correu o país, divulgada inclusive por ministros do atual governo federal. As verdadeiras razões de se cometer um erro tão grosseiro dificilmente serão conhecidas, tampouco o custo da difamação.
Lava-jato: uma justiça à parte
A lava-jato é uma espécie de “instituição paralela”. A força-tarefa sediada em Curitiba é coordenada pelo procurador Deltan Dallagnol. O rapaz ficou famoso no país depois que produziu o famoso “powerpoint” onde Lula aparece no centro de uma rede de “bolinhas” incriminatórias. Apesar da pouca solidez das evidências, Deltan dava como garantia a sua convicção, suficiente para legitimar as ações de quem queria ver o PT riscado do mapa. O desdobramento da história todos conhecem bem.
Mais tarde, mensagens de texto trocadas entre integrantes da operação, divulgadas pelo The Intercept no escândalo que ficou conhecido como “vaza-jato”, revelariam que nem mesmo convicção Dallagnol tinha. Nas suas próprias palavras, a acusação era feita “com base em notícia de jornal e indícios frágeis”. Falou do seu “receio da história do apartamento” (referindo-se ao famoso “Triplex do Guarujá”).
O tal apartamento, por sinal, foi arrematado em 2018 pelo empresário Fernando Gontijo, que, além de ter problemas na justiça da Paraíba por suposta participação em licitações fraudulentas, tem ligações com Geraldo Alckmin. Mais estranho é o fato de ter sido o único lance, no preço mínimo, dado no último minuto do leilão. Se não fosse arrematado ali, o apartamento teria o preço revisto em baixa, o que desmoralizaria ainda mais a frágil acusação.
Deltan: R$ 2.567.756.592
Mas a circunstância mais absurda da operação lava-jato, e que só pode ser explicada pela imensa conivência da opinião pública, foi o episódio da “fundação” bilionária que tentou criar Deltan Dallagnol no começo de 2019, após a justiça dos Estados Unidos ter decidido punir a Petrobras em favor dos acionistas americanos. Esse processo se deu graças a uma espécie de cooperação voluntária dos procuradores de Curitiba com o Departamento de Justiça daquele país.
A Petrobras, já sangrada pela corrupção, sangraria uma segunda vez pela mão dos gringos. Não havia maneira viável de contestar os EUA. Nesse mundo, o país mais poderoso pode impor sua “justiça” sobre a dos mais fracos. Os americanos aceitaram entretanto um acordo em que 80% do valor da multa ficaria no Brasil. A Petrobras depositou então R$ 2,5 bilhões (100 vezes o suposto valor do triplex) numa conta bancária gerida pelo próprio Dallagnol.
O Paradeiro da Bolada
Durou pouco a alegria dos procuradores da Lava Jato de Curitiba, que pretendiam gerenciar a grana através de uma fundação. Pegou mal. O plano foi abortado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Na sequência, foi o outro craque da lava-jato, o ex-juiz Sérgio Moro, quem tentou convencer a então Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, a destinar os recursos ao (seu) Ministério da Justiça. A recomendação foi, entretanto, de destinar o dinheiro à educação. Recentemente, por conta da atual crise sanitária, selou-se o destino da bolada: enfrentar o Covid-19.
* Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, cível e criminal, sem ônus, e não refletindo a opinião do jornal O Sul.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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