Quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de outubro de 2017
As polêmicas levantadas pelas exposições do “Queermuseu” e do MAM-SP provavelmente não aconteceriam no Museu D’Orsay, em Paris. O prestigiado espaço às margens do rio Sena vai retomar, neste mês de outubro, uma campanha feita em 2015 para atrair famílias aos seus corredores com cartazes como: “Tragam seus filhos para ver gente nua”.
A campanha foi criada pela agência Madame Bovary, sob a coordenação da diretora de comunicação do Museu d’Orsay e de L’Orangerie, Amélie Hardivillier: “A campanha foi muito bem recebida pelo público, apreciada e reproduzida. Não houve nenhuma polêmica em relação a ela”, disse ela à “Radio France Press”.
Segundo ela, o objetivo da campanha é compreender melhor as reações das crianças diante de obras de arte e brincar com a ideia de que são as crianças que levam os pais aos museus.
Do outro lado do rio Sena, o Louvre tomou decisão diferente. O diretor do museu, Jean-Luc Martinez, vetou a exposição da escultura “Domestikator” no Jardim das Tulherias por considerar que ela poderia “ser mal compreendida pelos visitantes”.
Hardivillier destaca que nenhuma obra do museu tem restrição de idade, nem mesmo ‘A origem do mundo”, de Gustave Courbet: “Há a relação com a nudez que leva ao debate, sobretudo sobre essa obra, que é tão sensível. Mas essa também é a função da arte: incomodar, questionar”, diz.
Serão no total nove cartazes exibidos em pontos de ônibus e no metrô de Paris com obras do museu ao lado de frases bem-humoradas. A campanha original fez sucesso nas redes sociais, com especial destaque para a peça que trazia a tela “Femme Nue Couchée” (Mulher Nua Deitada), feita em 1907 por Auguste Renoir, ao lado da frase do título desta matéria.
No Brasil a representação e participação de crianças em exposições de arte com nudez ou teor sexual causaram violentas reações nas últimas semanas. Após anunciar que pretendia trazer a exposição “Queermuseu”, censurada em Porto Alegre, ao Rio, o MAR desistiu a pedido do prefeito Marcelo Crivella. Em São Paulo, uma performance com um artista nu também gerou críticas e está sendo investigada pelo MP.
A polêmica tem levado a debates acalorados nas redes. Psicólogos consideraram que a exposição da criança que tocou o homem no MAM nas redes sociais foi bem mais prejudicial do que o ato em si. Autoridades não viram pedofilia na mostra de Porto Alegre e curadores disseram que a altura das obras sequer era condizente com a da visualização de crianças, ou, no caso de São Paulo, que havia advertência na entrada. Agora está sendo discutida a inclusão de classificações indicativas de idade para exposições, tal qual é feito para cinemas e peças de teatro. Enquanto isso, a discussão segue.