Um estudo brasileiro apontou que o cenário trágico vivido em Manaus, no Amazonas, em decorrência da Covid-19 foi resultado da disseminação do Sars-cov-2 e do surgimento da variante P.1, agora, chamada de gama.
Publicado no periódico Nature, o trabalho foi baseado em 250 genomas do vírus de pessoas que tiveram a doença severa e diferentes municípios do Estado amostrados entre março de 2020 e janeiro de 2021.
Em posse desses dados, os pesquisadores conseguiram identificar os vírus que provocaram a primeira e a segunda onda na capital amazonense. Conforme o estudo, na primeira fase os casos foram consequência da disseminação da linhagem B.1.195, que foi, gradualmente, substituída pela B.1.1.28 entre maio e junho de 2020. Ambas foram as primeiras linhagens a se espalhar pelo mundo. A segunda onda, afirmam, coincidiu com o aparecimento da variante P.1, originária da B.1.1.28, identificada no final de novembro do ano passado e que, em menos de dois meses substituiu sua versão original.
O líder do estudo, Felipe Gomes Naveca, vice-diretor de Pesquisa e Inovação do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz/Amazônia), um dos descobridores da P.1, disse que a terceira onda será inevitável no cenário atual: com ritmo de vacinação lento, pouca adesão ao distanciamento social e uso de máscara. Segundo ele, a P.1 continua mudando.
“Vemos sinais de uma possível terceira onda começando no Nordeste, em especial, em Pernambuco. Em Manaus, temos cerca de um terço da população que não foi exposta ao coronavírus e está vulnerável. E mesmo quem foi vacinado apenas com uma dose permanece suscetível porque a imunização só acontece com duas doses. Há ainda a possibilidade de reinfecção — disse ao jornal O Globo.
Naveca garante que a mutação brasileira continua se espalhando e evoluindo, criando escapes de anticorpos. “Essas mudanças podem torná-la resistente ao ataque do sistema imunológico e, talvez, às vacinas”.
O trabalho conclui que a baixa adoção às medidas não-farmacológicas (como distanciamento social e isolamento quando doente, por exemplo) de intervenção representa um risco ao surgimento contínuo de novas variantes e que, a implementação de medidas de mitigação e a vacinação são cruciais para controlar a disseminação do vírus no Brasil.