Domingo, 09 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de setembro de 2023
Em seu primeiro discurso in loco na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, aproveitou o momento para alertar o mundo sobre os riscos de uma guerra nuclear e destacar os impactos globais do conflito para além da esfera bélica, como na produção de alimentos e no mercado energético. Recebido sob fortes aplausos nessa terça-feira (19), o líder ucraniano defendeu o desarmamento total da Rússia, maior potência nuclear do mundo: “terroristas não têm direito de ter armas nucleares”.
“A Ucrânia desistiu do seu terceiro maior arsenal nuclear e então o mundo decidiu que a Rússia deveria ser a guardiã de tamanho poder”, pontuou, afirmando que as armas de “destruição em massa estão ganhando impulso”. “A história mostrou que a Rússia é quem mais deveria ter passado por um desarmamento nuclear nos anos 1990. E a Rússia merece passar por isso agora: terroristas não têm direito de ter armas nucleares.”
Para o presidente da Ucrânia, a promoção do desarmamento nuclear no século XX, após a Segunda Guerra Mundial, não é suficiente para proteger o mundo do que chamou de “guerra final”. Segundo Zelensky, embora haja muitas convenções limitando a corrida armamentista, a Rússia está transformando outros ativos em arma, como a produção de alimentos.
“O agressor está transformando muitas outras coisas em armas, e elas não estão só sendo usadas contra o nosso país, mas contra os seus também”, destacou. “Desde o início da guerra, os portos ucranianos no Mar Negro têm sido bloqueados pela Rússia. (…) A Rússia está usando a elevação dos preços dos alimentos como arma. O seu impacto vai da Costa do Atlântico à África e ao Sudeste Asiático, essa é a escala da ameaça.”
O presidente ucraniano também listou a produção de energia, especialmente a nuclear, como instrumento de chantagem russo em busca de reconhecimento internacional.
“Muitas vezes, o mundo testemunhou a Rússia usando energia como arma. O Kremlin usou o petróleo e o gás como armas para enfraquecer os líderes de outros países. Agora a ameaça é ainda maior”, alertou. “A Rússia está transformando a energia nuclear em uma arma. Ela não está apenas ampliando a construção de usinas de energia nuclear não confiáveis, mas também está transformando as usinas de outros países em verdadeiras bombas sujas. Veja o que a Rússia fez com nossa usina de Zaporíjia: a bombardeou, a ocupou e agora chantageia outros países com vazamentos de radiação.”
Durante o discurso, Zelensky ainda apontou uma outra arma não-bélica que Moscou vem utilizando na guerra na Ucrânia: a deportação ilegal de crianças ucranianas para territórios controlados pela Rússia – crime pelo qual o presidente russo Vladimir Putin é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. Para o líder ucraniano, a prática configura “genocídio”.
“Infelizmente, vários grupos terroristas sequestram crianças para pressionar suas famílias e sociedades. Mas nunca antes o sequestro em massa e a deportação se tornariam parte da política do governo. Não até agora. Sabemos os nomes de dezenas de milhares de crianças e temos evidências sobre centenas de milhares de outras sequestradas pela Rússia nos territórios ocupados da Ucrânia e posteriormente deportadas”, declarou o presidente ucraniano. “O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra Putin por esse crime. (…) Essas crianças na Rússia são ensinadas a odiar a Ucrânia, e todos os laços com suas famílias são rompidos… Isso é claramente um genocídio.”
De acordo Zelensky, o objetivo de Moscou com a guerra na Ucrânia é usar os recursos do país como arma contra a comunidade internacional, destacando o histórico de invasões e interferências do Kremlin em nações soberanas.
“A cada década, a Rússia inicia uma nova guerra. Partes da Moldávia e da Geórgia permanecem ocupadas. A Rússia transformou a Síria em ruínas. E se não fosse a Rússia, as armas químicas nunca teriam sido usadas na Síria. A Rússia quase engoliu a Bielorrússia. Obviamente, está ameaçando o Cazaquistão e os Estados bálticos”, listou Zelensky. “O objetivo da atual guerra contra a Ucrânia é transformar nossa terra, nosso povo e nossos recursos em uma arma contra vocês, contra a ordem internacional baseada em regras. Muitos assentos no salão da Assembleia Geral podem ficar vazios se a Rússia tiver sucesso em sua traição e agressão.”
Em um aceno a lideranças, sobretudo do Sul Global, que criticaram o foco dado à guerra na Ucrânia em detrimento do combate às mudanças climáticas, Zelensky defendeu a união contra a Rússia para que mundo possa focar na urgência climática.
“Graças a Deus, as pessoas ainda não aprenderam a usar o clima como uma arma”, afirmou Zelensky. “Quando as pessoas no Marrocos, na Líbia e em outros países morrem em decorrência de desastres naturais. Quando ilhas e países desaparecem debaixo d’água. Quando tornados e desertos estão se espalhando por novos territórios… No momento em que tudo isso está acontecendo, um desastre não natural em Moscou [em referência a Putin] decidiu lançar uma grande guerra e matar dezenas de milhares de pessoas. Devemos agir juntos para derrotar o agressor e concentrar todas as nossas capacidades e energia no enfrentamento desses desafios.” As informações são do jornal O Globo.