Sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de abril de 2024
O movimento, segundo analistas, reflete a aposta do governo Lula no “Sul Global” – que é arriscada.
Foto: Ricardo Stuckert/PRAo passo em que os Estados Unidos e a Europa lideram uma coalizão de boicote à Rússia pela invasão da Ucrânia, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou no último ano a cooperação econômica com a Rússia de Vladimir Putin,em meio à guerra.
Pela primeira vez desde que a relação ascendeu ao status de parceria estratégica, há duas décadas, as trocas comerciais superaram a meta de 10 bilhões de dólares, chegando 11,3 bilhões de dólares ao longo de 2023. O movimento, segundo analistas, reflete a aposta do governo Lula no “Sul Global” – que é arriscada.
Esse “Sul Global”, foco da política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem resistido ao apelo de Kiev e aliados para isolar Moscou. Assim, surgiu como uma rota alternativa para Vladimir Putin driblar as sanções enquanto se beneficia com combustíveis mais baratos da Rússia.
O Brasil, por exemplo, se tornou o maior comprador de diesel russo, com 6 milhões de toneladas importadas em 2023. Isso representa um aumento de 6.000% em relação ao ano anterior e um total de US$ 4,5 bilhões. Em seguida vêm os fertilizantes, que correspondem à outra grande fatia do comércio com a Rússia e somaram US$ 3,9 bi no ano, segundo dados do monitor Trading Economics.
A razão para não endossar as punições é que o País, historicamente, se opõe às sanções unilaterais e só considera embargos validados pela ONU – o que não aconteceria neste caso porque a Rússia tem poder de vetar qualquer punição que pudesse sofrer.
“Tem um aspecto pragmático que é preponderante, de importar derivados de petróleo, especialmente o diesel, de um produtor relevante em condições favoráveis para estabilizar os preços domesticamente”, afirma o professor de Relações Internacionais da FGV Pedro Brites.
Mas também tem o aspecto político. “A condenação da Rússia pela guerra na Ucrânia é muito forte entre os países do Norte Global, mas que não se disseminou de forma tão efetiva na Ásia, na América Latina, na África e no Oriente Médio. Há uma divisão sobre como lidar com a Rússia. E no Brasil você tem o governo Lula tentando se aproximar desses países do Sul Global, que favorece politicamente a Rússia”, acrescenta Brites.
Nas suas idas e vindas sobre o conflito, Lula foi criticado por equiparar as responsabilidades que Ucrânia (país invadido) e Rússia (país invasor) teriam pela guerra ao dizer que “quando um não quer, dois não brigam”.
O presidente também sugeriu que Putin poderia vir ao Brasil sem medo de ser detido, embora seja alvo de um mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Para abrir caminho, o governo endossou a tese de imunidade de chefes de Estado para recebê-lo em novembro, na Cúpula do G-20. O líder russo, que tem evitado viagens, avalia o convite.