A cúpula do Exército avalia que o tenente-coronel Mauro Cid deixou de ser o maior problema para a imagem dos militares. A avaliação do grupo é que, com as informações trazidas pela Polícia Federal (PF) na investigação da tentativa de golpe, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro deixou de ser protagonista da trama.
Para eles, o papel de Cid teria ficado restrito a uma espécie de “trafico de influência”, enquanto outros militares tiveram papel central no plano de ruptura institucional.
Para militares de alta patente, os generais Walter Braga Netto e Mário Fernandes despontam hoje como as figuras que mais trazem desgastes para a imagem do Exército. Ambos estão presos preventivamente, por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O plano de assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do próprio Moraes arquitetado por Mário Fernandes, além da atuação de Braga Netto levando dinheiro em caixa da vinho para financiar os ataques, são descritos por militares como os episódios que mais constrangem as Forças. Houve, ainda, a atuação de Braga Netto para tentar descobrir o conteúdo da delação premiada de Mauro Cid, conforme diz a PF.
A subserviência do tenente-coronel a Bolsonaro já era criticada por uma ala do Exército quando Cid ainda era ajudante de ordens do então presidente. Hoje, a leitura na Força é que os problemas foram além do militar e que são personificados pelos dois generais presos.
“Ficção”
Um dia após assumir a defesa do general Walter Braga Netto, o advogado José Luís Oliveira Lima disse à CNN Brasil que a fala do tenente-coronel Mauro Cid sobre a participação do ex-ministro da Casa Civil e da Defesa do governo de Jair Bolsonaro (PL) em uma suposta tentativa de golpe de estado é “ficção”.
O criminalista pede ainda que Braga Netto seja ouvido pela Polícia Federal (PF) para apresentar sua versão dos fatos. “A fala de Cid é fantasiosa, mentirosa, uma ficção”, disse o criminalista nessa quinta-feira (19).
O advogado apontou ainda o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro mudou o seu depoimento ao ser ouvido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, no dia 21 de novembro. O esclarecimento à Corte foi prestado após a PF indicar omissões e contradições nos depoimentos anteriores de Cid.
No novo depoimento, Mauro Cid revelou que Braga Netto entregou dinheiro em uma sacola de vinho para o então major Rafael Oliveira, integrante das Forças Especiais, para a execução pelos “kids pretos” do plano de suposta tentativa de golpe de Estado. Disse ainda que o recurso havia vindo do “pessoal do agronegócio”.