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Por Redação O Sul | 23 de abril de 2016
Laptops e aplicativos de organização pessoal fazem com que o papel e a caneta pareçam antiguidades, mas a escrita à mão parece ajudar na concentração em sala de aula e estimular o aprendizado de um jeito que a digitação em um teclado não é capaz, sugerem novas pesquisas.
Estudantes que tomam notas à mão geralmente têm um desempenho superior ao dos que tomam notas em seus computadores, concluíram pesquisadores da Universidade de Princeton e da UCLA (Universidade da Califórnia de Los Angeles), ambas nos Estados Unidos. “As anotações escritas captam meu pensamento melhor do que digitando”, assinala o psicólogo educacional Kenneth Kiewra, da Universidade de Nebraska em Lincoln (EUA), que estuda as diferentes formas como fazemos anotações e organizamos informações. Na verdade, há algo no ato de escrever que excita o cérebro, mostram estudos de imagens do órgão. “Fazer anotações é um processo bem dinâmico”, aponta o psicólogo cognitivo Michael Friedman, da Universidade Harvard (EUA), que estuda sistemas de fazer anotações. “Você está transformando o que você ouve em sua mente.”
Normalmente, pessoas que fazem anotações da aula no computador fazem mais anotações e podem mais facilmente acompanhar o ritmo do que vem sendo dito do que as que estão usando papel e caneta, segundo verificaram os pesquisadores.
Estudantes universitários americanos geralmente digitam suas anotações de uma aula a um ritmo de 33 palavras por minuto. Já as pessoas que estão escrevendo suas notações anotam cerca de 22 palavras por minuto. No curto prazo, vale a pena. Pesquisadores da Universidade de Washington em St. Louis (EUA) descobriram em 2012 que as pessoas que tomaram notas em laptops e passaram por um teste imediatamente após a aula lembraram mais do conteúdo e tiveram um desempenho ligeiramente melhor do que colegas que escreveram suas notas à mão. Os pesquisadores divulgaram seus experimentos com 80 estudantes no Jornal de Psicologia Educacional.
Digitação prejudica memória.
Qualquer vantagem, porém, se mostrou temporária. Após somente 24 horas, os que tomaram notas nos seus computadores geralmente tinham esquecido o conteúdo que tinham anotado, mostraram vários estudos. As anotações abundantes também não eram muito úteis para relembrar o que foi dito, porque elas eram superficiais. Comparativamente, os que tomaram notas à mão lembravam o conteúdo por mais tempo e tinham uma melhor ideia dos conceitos apresentados em classe, mesmo uma semana depois.
Em outros três experimentos, os psicólogos Pam A. Mueller, de Princeton, e Daniel Oppenheimer, da UCLA, fizeram com que os estudantes ouvissem palestras sobre temas variados, incluindo algoritmos e morcegos, enquanto tomavam notas no computador ou no papel. Os 67 estudantes foram imediatamente submetidos a testes e, depois de uma semana, tiveram a oportunidade de rever suas anotações.
Os que escreveram à mão usaram menos palavras, mas pareciam ter pensado mais intensamente sobre o que escreveram e digerido melhor o que ouviram, escreveram os pesquisadores na Psychological Science.
Já os que usaram computadores fizeram anotações de forma mais mecânica, escrevendo o que ouviram praticamente palavra por palavra. Esse é problema: a tendência dos que digitam de tomar notas literais. “Ironicamente, a própria característica que torna tão atraente tomar notas com os computadores – a capacidade de tomá-las rapidamente – foi o que prejudicou o aprendizado”, ressaltou Kiewra.