O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou nessa sexta-feira (30) que não aceita a vitória de Nicolás Maduro nem da oposição nas eleições da Venezuela. A fala ocorre dois dias depois de o presidente venezuelano dar uma indireta ao governo brasileiro e outros países que questionaram a decisão do Tribunal Supremo de Justiça do país de ratificar, na semana passada, a reeleição de Maduro para um terceiro mandato na Venezuela a partir de janeiro do próximo ano.
“A Venezuela tinha colégio eleitoral, Comitê Nacional Eleitoral, três pessoas do governo e duas da oposição, esse colégio tinha de dar parecer sobre as atas [eleitorais]. Ele não ouviu esse colégio, passou direto para a Suprema Corte. Não estou questionando a Suprema Corte, apenas acho que corretamente deveria passar pelo colégio eleitoral que foi criado para esse fim. Não aceito nem a vitória dele nem da oposição. A oposição fala que ganhou, ele fala que ganhou, mas não tem prova. Estamos exigindo a prova. Ele tem direito de não gostar. Eu falei que era importante convocar novas eleições”, disse Lula em entrevista à Rádio MaisPB.
Sem citar diretamente Lula, Maduro afirmou na última quarta que ninguém se meteu na eleição brasileira quando o ex-presidente Jair Bolsonaro não reconheceu os resultados das urnas em 2022. A fala ocorreu em evento político para marcar um mês da eleição venezuelana e fez referência à atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições brasileiras em 2022:
“No Brasil, teve eleições e o presidente Bolsonaro não reconheceu os resultados, houve recurso ao ‘Tribunal Supremo’ de Brasil (TSE), que decidiu que os resultados eleitorais deram a vitória a Lula. Santa palavra no Brasil. E quem se meteu com o Brasil? Você fez um comunicado? (apontou para plateia) Você? Você? Venezuela disse algo? Dissemos apenas que respeitamos as instituições brasileiras e eles resolveram seus problemas internamente, como deve ser”, afirmou Maduro.
Auxiliares do presidente brasileiro afirmaram que o recado de Lula de que não é possível reconhecer nem Maduro, nem o candidato da oposição, Edmundo Gonzáles, foi transmitido às partes nos bastidores.
Onda de violência
O aumento da repressão na Venezuela é um fator de preocupação em Brasília. Junto com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, Lula fez chegar a Maduro que a verdade da eleição no país vizinho, há mês, é só uma e está nos documentos que compravam como foi votação no país. Esse é o ponto de partida para qualquer negociação.
Maduro foi proclamado presidente eleito pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, e confirmado pela Suprema Corte do país. A oposição e parte da comunidade internacional rechaçaram o resultado e consideram González o vencedor. Desde então, o país mergulhou em uma onda de violência.
Modelo brasileiro
Brasil e Colômbia exigem a apresentação das atas eleitorais. Os dois países também tentam abrir um canal de diálogo entre Maduro e a oposição.
Diferentemente da Venezuela, as eleições brasileiras são acompanhadas em todas suas etapas por entidades nacionais e internacionais, além de partidos políticos. E, ao final da votação, os boletins de todas as urnas são divulgados no próprio local de votação e também ficam disponíveis para conferência na internet — o que não ocorreu no país vizinho, onde atas de votação não foram tornadas públicas pela Justiça eleitoral do país.