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Não devemos frear o progresso

Milton Friedman, visitando obras de construção de um canal na China, estranhou que as escavações fossem feitas por homens, em vez de por máquinas pesadas. Ao questionar tal fato aos membros da delegação que o acompanhava, recebeu uma resposta repleta de orgulho: “Se usássemos máquinas, não criaríamos tantos empregos”. Friedman não se conteve: “Se vocês querem empregos, em vez de usar pás, por que não usam colheres?”.

Essa passagem é ilustrativa para se compreender que não podemos frear o progresso, nem mesmo sob o argumento da preservação de empregos. Ao contrário, à medida que aumentarmos nossa capacidade de gerar riqueza com avanço tecnológico, maiores serão os benefícios para toda a sociedade, principalmente com a diminuição do preço de produtos e serviços. Podendo a população dispor de mais recursos, espontaneamente, tem-se a geração de novos empregos, como um movimento natural do mercado frente às novas demandas que virão.

Imaginemos que os carteiros se opusessem, com êxito, à utilização do e-mail. Sob o argumento de que perderiam suas ocupações, exigiriam que todas as correspondências fossem enviadas de forma física. Assim, teríamos uma vantagem para um grupo, mas um imenso prejuízo para todas as demais pessoas que pretendessem se comunicar dessa forma. O mesmo poderíamos dizer dos acendedores de lampiões, caso buscassem impedir o uso de energia elétrica nas vias públicas; dos telefonistas, na luta contra a utilização de avançadas tecnologias de telecomunicações; enfim, situações análogas estão a nossa volta, aos montes.

As hipóteses citadas, aos olhos de hoje, nos parecem esdrúxulas. Mas ainda enfrentamos esse tipo de debate, por exemplo, na tentativa de preservação de empregos dos cobradores nos ônibus. Mesmo sabendo-se que o custo gerado com essa categoria representa uma parcela significativa do preço da passagem, há quem defenda a proteção dos empregos, sem enxergar que cada um de nós poderia destinar a outros fins o que somos obrigados a direcionar a gastos com transporte.

Enquanto não se compreender que o progresso beneficia o todo, permitindo a diminuição dos custos de produção e, logo, dos custos suportados pelos cidadãos, os quais poderiam empregar seus recursos de outras maneiras no mercado, seremos uma sociedade do passado. Para o Brasil voltar a ser o país do futuro, o primeiro passo é pararmos de escavar com colheres.

Caio Rizk é advogado e associado do IEE

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