Ícone do site Jornal O Sul

Não está fácil também para europeus: impressões de viagem!

Grupo espanhol é o primeiro a pedir autorização para voar no País com base na medida provisória que abriu o setor aéreo às estrangeiras. (Foto: Freepik)

Alguns apontamentos de viagem. São impressões no varejo, por óbvio. Há que se ter muito cuidado com generalizações. Sempre me preocupo com a possibilidade de ser enganado por minhas percepções. O senso comum pode enganar. Chama-se a isso de visão via estereótipo. Vejo um francês que não toma banho e tiro disso uma tese: os franceses não gostam de banho. É a famosa navalha de David Hume. De um “é” não se deve tirar um “deve ser”. De uma constatação empírica não se deve extrair uma generalização “tipo receita”. Algo como “há muita violência”, logo, aprovemos o porte de arma. Ou a pena de morte.

Andando por três países (Itália, França e Portugal) por muitos dias, sempre se descobrem coisas. Por exemplo, o museu da história de Marselha mostra a história do canal de Suez. Nunca havia me preocupado em descobrir o modo como o canal foi construído, o sofrimento dos operários, as dez mil mortes e coisas desse tipo. E as máquinas que foram sendo inventadas durante a construção. O homem vencendo a natureza. Impressionante.

Interessante é que na França e Itália têm tantos pedágios que, em Marselha, até para atravessar túneis na cidade paga-se dez reais. Há tantos pedágios pelas estradas desses dois países (Portugal têm bem menos) que gastei mais em pedágio do que em diesel consumido pelo Mercedes C200 no qual a locadora AVIS esqueceu de colocar o chip de navegação. Tivemos que usar waze e google maps. Haja celular para tudo isso. Vamos ver o que a AVIS terá a dizer sobre essa patacoada.

Claro que as estradas são tão boas que se sente qualquer protuberância. O carro anda silencioso. Já havia acostumado com o ruído proveniente do asfalto ruim aqui do Rio Grande, sem falar no escândalo das esburacadas ruas da Capital. Há carros – e posso falar de cadeira disso – que não deveriam ser vendidos no Brasil. Foram feitos para estradas tipo-Europa-EUA. É uma pena colocar determinados carros no terreno irregular dos calçamentos e dos asfaltamentos meia-boca das cidades gaúchas.

Mas, enfim, não generalizemos. Desse “é” não tiremos um “deve”. Por aqui não se aguentaria pedágios pelo preço da Itália e França. Sem contar que já há pedágio para circular pelo centro de algumas cidades europeias. Os franceses estão fulos da vida (nem todos, cuido com a generalização) com o governo. Não diretamente com Macron. Com o stablishment. Muito imposto, preços caros, salários baixos, falta de moradia (alugueis e aquisições são exorbitantes) … Para quem se queixa do imposto de 27,5%, ficaria irritado com o percentual pago na Europa, como os jogadores de futebol brasileiros que vão jogar na Europa. O zagueiro Breno, há alguns anos, entrou em surto quando descobriu que a metade do que ganhava ficava com o fisco alemão.

Países e países. Realidades diferentes, tradições diferenciadas. O patrimonialismo brasileiro deixou (e deixa) heranças difíceis de superar. Ainda hoje, no Brasil, aceita-se a tese de que o furto é mais grave que a sonegação de tributos. O Código Penal e a legislação esparsa mostram isso: se alguém furta e a mercadoria é apreendida, há um desconto da pena; se alguém sonega e depois paga, ocorre a extinção da punibilidade. Países e países, penas e penas.

E a comida? Pano para manga. Come-se melhor em Portugal. Há muita picaretagem na Itália e França (de novo, de um é não se tira um “deve”). Barzinhos e restaurantes fuleiros sem estrutura que anunciam pratos inservíveis. Apenas ficam na foto. E quem ajuda a picaretagem são os sites de viagens tipo Expedia, Booking, etc. Ponha na busca “melhores restaurantes” e saia correndo. Da lista. Não vá que é fria. Ache o restaurante por você mesmo. Como os hotéis também. Na foto, tudo é como o sanduíche do McDonald. Vai ver de perto e é uma pilantragem. Os sites de viagens enganam tanto que mentem sobre a distância do hotel ao centro. Enfim, observações de viagem. Depois eu conto mais.

 

Sair da versão mobile