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Flávio Pereira “Não existe vacina 100% segura, como não existe antibiótico 100% seguro. Nenhuma cirurgia é 100% segura”

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O Instituto Gamaleya de Moscou, que criou a vacina russa, deve agora verificar a qualidade do lote. (Foto: Reprodução)

As vacinas ganharam atenção especial desde o início da pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 430 mil brasileiros. Apesar de grande parte da população, cerca de 84%, segundo a última pesquisa Datafolha, afirmar que pretende tomar o imunizante, uma parte da sociedade questiona pontos como as reações adversas das vacinas para elencar motivos que baseiam a decisão de não ir ao posto de saúde receber as doses.

Especialistas refutam as críticas e lembram que os sintomas da doença são, muitas vezes, ainda piores do que os possíveis efeitos causados pela aplicação.

A insegurança se agravou em razão da morte de uma mulher grávida de 35 anos por acidente vascular cerebral hemorrágico após ter tomado a vacina da Oxford, no Rio de Janeiro. O caso está sob investigação e não há comprovação da relação entre a aplicação do imunizante e o episódio de trombose.

Mas, por precaução, o Ministério da Saúde suspendeu temporariamente a aplicação das vacinas contra covid em gestantes e puérperas (período que começa no parto e pode se estender por 45 dias ou mais) sem comorbidades. Segundo a pasta, a imunização de grávidas e puérperas com comorbidades só deve ser feita com a Pfizer ou com a CoronaVac.

“O fato de o Ministério da Saúde ter suspendido a vacinação em grávidas sem comorbidades não significa que é para as pessoas pararem de se vacinar”, alerta Anna Christina Tojal, infectologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Pelo contrário, “é para as pessoas continuarem se vacinando conforme a orientação da pasta”. Segundo ela, o benefício da vacina é muito maior do que um efeito adverso, por evitar o adoecimento, agravamento ou morte em decorrência da doença.

Independentemente da vacina, os efeitos adversos de uma imunização são leves e moderados. Dor no local da aplicação, vermelhidão, dor no corpo, febre e dor de cabeça são efeitos que a maioria das vacinas têm. Eventos adversos graves são muito mais raros.

“O risco de morrer pela covid é maior do que por eventos adversos graves de uma vacina”, afirma Tojal. “Estamos sob um risco muito alto de ter a doença. Existem muitas variantes do vírus, que são mais transmissíveis, porque o número de pessoas infectadas é muito grande, e aquele efeito rebanho que pensámos que poderia existir, não existe”.

A especialista ressalta ainda que o evento adverso grave por causa da vacina contra covid é muito menor do que os riscos de trombose, por exemplo, em mulheres que usam anticoncepcional ou fumantes.

Maria Isabel de Moraes Pinto, infectologista da Dasa, explica que todo e qualquer imunizante pode causar desconfortos. “Não existe vacina 100% segura, como não existe antibiótico 100% seguro. Qualquer cirurgia não é 100% segura. É difícil, às vezes, para a população, entender que a gente põe em uma balança os riscos e os benefícios. Então, sem dúvida alguma, os benefícios superam os riscos das vacinas”, afirma.

Sintomas mais comuns

É assim, também, com as vacinas mais comuns que fazem parte da vida dos brasileiros há anos. Como o imunizante contra a febre amarela e a gripe, que podem causar efeitos colaterais, mas são extremamente úteis na hora de proteger a sociedade das respectivas doenças. Na vacina da febre amarela, mais de 10% dos pacientes imunizados chegam a apresentar dor de cabeça e dor no corpo. Outras reações comuns, que acontecem entre 1% e 10% dos pacientes, são enjoo, febre e dor local da aplicação.

Como resposta aos componentes da injeção, o corpo pode apresentar sintomas, como dor e inchaço no local da aplicação, dor de cabeça e até febre. Em casos raros, certos imunizantes podem desencadear eventos adversos mais graves. “O objetivo da vacina é justamente você receber uma vacina que combata um vírus ou uma bactéria “monstro”. Para desenvolver uma resposta, você recebe um vírus ou uma bactéria atenuados. Então, são sempre uma resposta e uma exposição menos arriscada do que a própria doença”, explica a especialista.

Márcia Carvalho, 61 anos, tomou a primeira dose da Oxford há 15 dias e sentiu reações ao imunizante. Dor de cabeça, febre e até enjoo foram as principais queixas da aposentada. O marido, que tomou no mesmo dia, observou sensações mais brandas, conta, como dor no braço vacinado e um pouco de dor no corpo. Segundo especialistas, a reatividade depende muito das características de cada metabolismo, logo, variam de pessoa para pessoa.

O objetivo dos estudos clínicos realizados antes da aprovação dos imunizantes é justamente expor as reações mais comuns relatadas pelos voluntários. A infectologista da Dasa também esclarece que não há relação alguma entre os eventuais efeitos colaterais de um imunizante e sua eficácia: “Você pode ter tanto uma vacina que é pouco eficaz e muito reatogênica, quanto vacinas muito eficazes e muito seguras”.

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