Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de abril de 2018
Quem controla a entrada reservada aos presos do regime fechado na Apac (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) de Sete Lagoas (MG) é Marcos Valério Fernandes, 57 anos, condenado a 37 anos e cinco meses de prisão pelo Mensalão do PT e também acusado pelo mesmo esquema em governos tucanos.
De prancheta e caneta na mão, o ex-publicitário acusado de ser o operador do sistema de corrupção é um dos oito membros do CSS (Conselho de Sinceridade e Solidariedade), um dos pilares de funcionamento da unidade. O CSS se ocupa da disciplina, tarefa que nas Apacs cabe aos chamados recuperados, como passam a ser qualificados os presos que deixam o sistema prisional comum para cumprir pena em um presídio sem agentes penitenciários nem armas.
Em uma entrevista para a Folha de S.Paulo, Valério, com voz suave, avisa que faz dez anos que não dá nenhuma entrevista. Na conversa, ele fala sobre a prisão de Lula. “Fico triste. Pelos familiares e também pelo transformador que Lula foi. Apesar de todos os erros que cometeu. Tenho certeza de que ele vai analisar e chegar a esta conclusão. Mas ele foi um transformador. Um ícone, né? Eu fico triste. Não faz bem para o País Lula preso.”
“Parei para pensar sobre o preço que a transformação paga. Naquele momento [governo Lula] era uma transformação por caminhos errados. [O Mensalão] Era para tentar andar com algumas propostas que o governo tinha e nós aprovamos. Era preferível não ter feito, esperado, a pagar o preço que paguei. Vamos ver fragmentação de partidos. Novos sistemas. O Brasil vai ter que achar um caminho. E não é um novo golpe de Estado. É a democracia. É errar novamente”, analisou Valério.
Ele foi transferido para uma das 38 Apacs do Estado de MG em julho de 2017, quando o Tribunal de Justiça de Minas Gerais atendeu a um pedido da Polícia Federal. Deixar o presídio de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), onde cumpriu três anos e sete meses de prisão (após seis meses na Papuda, em Brasília), foi uma das condições de um acordo de delação premiada ainda em andamento.