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“Não há como reduzir Selic em 2025 com inflação e questão fiscal”, diz ex-diretor do Banco Central

O economista diz que, se não houver condições de baixar os juros no ano que vem, a expectativa é de um “atrito constante” entre o governo e o Banco Central. (Foto: Divulgação)

Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e head de macroeconomia do ASA, Fabio Kanczuk avalia que não haverá espaço para a redução da taxa básica de juros, a Selic, em 2025. Segundo ele, a inflação continuará a subir e a dinâmica fiscal do País ainda demanda cautela.

O economista diz que, se não houver condições de baixar os juros no ano que vem, a expectativa é de um “atrito constante” entre o governo e o Banco Central, mesmo sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula. Kanczuk, porém, fez elogios ao futuro presidente da autarquia: “Galípolo é super-habilidoso e foi brilhante ao convencer Lula de que era preciso elevar os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo”. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que o economista concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo.

– Qual sua avaliação da economia brasileira neste momento? “Há duas histórias possíveis. A primeira é que o impulso fiscal visto no primeiro semestre vai cair bastante. Com essa queda, o controle da inflação vai ficar bem mais fácil e, com isso, o BC vai levar a Selic até 12%, 12,5%. No segundo cenário, que é o da minha visão, houve um grande gasto fiscal do pagamento de precatórios em dezembro de 2023, concentrado em um mês. Houve um crescimento grande do fiscal entre 2019 e 2022, com Bolsonaro, pandemia e a transição para o governo Lula. Nessa sequência, aumentou o gasto. Isso se tornou um problema permanente, fez o fiscal ficar muito pior e vai continuar. O choque de impulso fiscal já se dissipou e, mesmo com a dissipação, a economia continua forte. Tem alguma coisa acontecendo, que não é o fiscal do precatório. O que tem aí de problema é um juro neutro muito mais alto. Seria preciso elevar muito mais a Selic. Apesar de a Moody’s falar que o rating é bom, teve muita piora fiscal desde 2019. A Selic até 12% não vai fazer o trabalho.”

– O BC deve ir além de 12%, 12,5% nesse ciclo de aperto monetário? “Acho que não. Não vai elevar até 14%, por exemplo. Vai até 12%, 12,5%, mas não vai trazer a inflação para a meta. Na primeira leitura, é que basta isso de juros que vai fazer o trabalho para depois reduzir. Na segunda leitura, o juro vai até 12,5% e o juro não cai. O BC para em 12,5% muito mais por pressão.”

– No seu cenário há previsão de redução de juros em 2025? “Na minha leitura, não tem como reduzir os juros. A inflação vai continuar subindo. A questão é o fiscal. Se quiser juros mais baixos, precisa ter uma mudança no fiscal no sentido de a dívida parecer sustentável. No fiscal, há essa discussão meio irrelevante se vai cumprir a meta ou não. Isso desvia a atenção do aumento da dívida. Para a dívida parar de crescer, a meta não é suficiente de jeito nenhum. O problema é muito maior.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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