Domingo, 06 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 7 de fevereiro de 2023
Mais de 7 mil pessoas morreram e outras milhares ficaram feridas após um terremoto de magnitude 7,8 atingir o sudeste da Turquia e o norte da Síria na segunda-feira. Na Turquia, onde foi registrado o epicentro do abalo sísmico, pelo menos 1.541 pessoas morreram e 9.733 ficaram feridas, segundo o último balanço divulgado. Sabrina, de 36 anos, brasileira grávida de 30 semanas que mora em Sanliurfa há cerca de quatro anos, é uma das que conseguiram escapar dessa estatística. Ao jornal O Globo, durante um outro forte tremor que interrompeu a entrevista realizada remotamente, na noite de segunda-feira, no horário local da Turquia, ela suplicou: “Não quero perder meu bebê.”
No momento do primeiro grande tremor, um pouco depois das 4h da manhã de segunda-feira, no horário local, Sabrina e o marido estavam dormindo. Ela foi acordada por ele.
“Ele me abraçou forte e disse para eu ficar calma por causa da Sofia [filha do casal, ainda na barriga de Sabrina]. No começo não entendi muito bem, aí fui começando a sentir a casa balançando, tudo batendo e caindo, e aí me dei conta que era um terremoto e que estava cada vez pior. Falei: ‘O prédio vai desabar, vamos sair’. Saímos de pijama mesmo. Só deu tempo de pegar alguns casacos que estavam à mão. Batemos a porta e ficamos sem chave, sem documento, sem nada”, conta.
O cunhado de Sabrina tentou chegar até eles de carro, mas não conseguiu. Com dificuldade, por conta da gravidez e da situação de risco, ela teve que andar por alguns minutos até alcançar o seu cunhado, que os levou para a casa dele, em uma área um pouco mais afastada. Tempos depois, com “tudo mais calmo”, voltaram para casa, para tentar pegar os seus documentos.
“Eu não conseguia caminhar muito porque a minha barriga doía. Meu marido pegou na minha mão e disse para eu aguentar. Conseguimos. Depois, quando chegamos na casa do meu cunhado, eu não queria entrar porque estava com medo que balançasse de novo. De manhã, com tudo mais calmo, pensamos que dava para voltar para pegar nossos documentos e conseguirmos ter uma identificação”, relata Sabrina.
“Enquanto estávamos tentando entrar em casa, no quinto andar do prédio, aconteceu outro forte tremor igual ao primeiro, da madrugada, e não conseguimos entrar. O prédio balançou como se estivesse em cima de uma gelatina. Meu cunhado me segurou e ficamos parados tentando nos agarrar nas paredes. Quando o tremor parou, conseguimos descer”, conclui.
No dia seguinte, nesta terça-feira, Sabrina e o marido retornaram e conseguiram entrar no apartamento deles para pegar os documentos. A sensação de medo, no entanto, se tornou constante para ela.
O cenário visto por Sabrina nas ruas de Sanliurfa “com pessoas gritando e tentando mexer nos escombros” é, segundo ela, “devastador”:
“Compramos nossas coisas de casa faz um mês e pouco. A mobília e o enxoval para esperar o nosso bebê. Saímos de casa pela nossa vida, sem olhar para trás. Lá ficou o nosso bem material, que podemos trabalhar para ganhar de novo depois. Pelo menos a família está toda viva. É isso que importa”, diz.
Há dois anos, em outubro de 2020, Sabrina foi para outra cidade na Turquia, Esmirna, para ajudar as vítimas de um terremoto que devastou a região. Ela diz não conseguir esquecer de uma cena que viu naquela ocasião.
“Há dois anos fui para Esmirna para ajudar as pessoas que passaram por essa situação que sinto agora, na pele. Demoliram muitos prédios que estavam em risco de serem habitados. Nunca vou esquecer imagem de uma estante com vários livros coloridos, que pareciam ser de criança, em um desses prédios. E agora estou passando por isso. Mas os prédios que eu vi não foram demolidos, eles caíram sozinhos. E, diferente das demolições, as pessoas estavam dentro. Nós sabemos”, conclui Sabrina. As informações são do jornal O Globo.