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Por Redação O Sul | 13 de junho de 2022
O crescimento do mercado da cannabis para uso terapêutico em todo o mundo tem atraído a atenção e os investimentos de grandes empresários e executivos no Brasil. É um mercado estimado pela Fortune Business Insights, globalmente, em US$ 28 bilhões no ano passado, podendo chegar a US$ 197 bilhões em 2028.
Além do uso medicinal, a planta também é aproveitada em sua totalidade na fabricação de matéria-prima para as indústrias cosmética, têxtil, de alimentos e bebidas e até na construção civil, o que justifica o interesse cada vez maior nesse segmento.
Claudio Lottenberg, ex-presidente do hospital Albert Einstein e atual presidente do conselho da entidade, já vinha acompanhando os avanços da substância na medicina havia vários anos, até que, no ano passado, decidiu apostar no seu próprio negócio ligado à cannabis.
Hoje, é um dos sócios da Zion MedPharma, de medicamentos produzidos com a substância. Segundo ele, não há dúvidas sobre o potencial terapêutico, mas ainda é preciso superar a barreira da falta de conhecimento e de informações.
“Quando as cirurgias de miopia começaram, também enfrentaram preconceito, pois eram vistas como estética. Depois, normalizou. Coisa parecida aconteceu com a cirurgia bariátrica. Esses preconceitos sempre existiram e precisam ser quebrados para que a medicina evolua”, diz.
Ao lado de Lottenberg no comando da Zion está Dirceu Barbano, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele, que assinou as primeiras autorizações para importação de cannabis no Brasil e foi um dos responsáveis pela abertura do órgão à discussão da questão, não teve dúvidas quando a oportunidade de investir no mercado de cannabis bateu à porta. Hoje, a Zion tem seu valor de mercado estimado em R$ 60 milhões.
Ex-diretor executivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Allan Paiotti, que também já ocupou cargos de diretoria em empresas de tecnologia, logística e investimentos, também entrou nesse mercado no ano passado.
“Quando tive contato com o mundo da cannabis medicinal, fiquei superimpressionado com seu potencial terapêutico e com o relativo atraso do Brasil nessa matéria. Aí, resolvi juntar as coisas”, diz, referindo-se à decisão de cofundar a Cannect, marketplace de produtos médicos e à base de cannabis, em que atua como presidente.
Aposta firme
No exterior, não são apenas executivos da área da saúde. Grupos farmacêuticos inteiros já fizeram suas apostas na cannabis. A Pfizer e a Jazz Pharmaceuticals investiram, no ano passado, cerca de US$ 7 milhões cada uma em aquisições. Mas, no Brasil, até pela insegurança jurídica que cerca o tema – uma vez que a maconha, considerada ilícita no País, é uma das espécies da cannabis –, esse tipo de movimentação ainda não acontece em larga escala. A Hypera, maior farmacêutica do País, já protocolou pedido para a comercialização de produtos à base da substância e aguarda pela aprovação da Anvisa.
Para que esse mercado avance, seria necessária a sua regulamentação. Mas o projeto que trata do assunto, o PL 399/15, está parado no Congresso desde 2015. Quase todos os países da América Latina estão mais adiantados em relação à regulamentação da cannabis. Uruguai, Colômbia, México, Argentina e Paraguai, por exemplo, já autorizaram o plantio em seus territórios, passo fundamental para o crescimento do negócio.
Enquanto isso não acontece por aqui, os fundos de investimentos que investem nesse mercado precisam recorrer às empresas listadas nas Bolsas americanas, como é o caso do fundo da XP. O BTG também entrou nesse segmento após a compra, no ano passado, da gestora Vítreo, que já tinha um fundo de investimentos voltado para a cannabis.
Mas, apesar das dificuldades, o potencial do mercado não passou despercebida para Theo van der Loo. Ele foi presidente da Bayer no Brasil de 2011 a 2018. Quando saiu da empresa para se aposentar, encontrou tempo, enfim, para se dedicar aos estudos sobre a cannabis. Cauteloso, primeiro se tornou investidor de uma empresa no Uruguai, até que, em 2019, fundou a NatuScience, importadora de produtos para o mercado brasileiro.
Atualmente, ele dedica cerca de 70% do seu tempo ao mercado da cannabis. “É uma questão complexa, com muitas oportunidades, mas, também, muitos riscos pela questão regulatória. Como você vai investir milhões em ensaios clínicos para desenvolver o mercado se não tiver a segurança de que o mercado seguirá existindo?”, diz ele, que se atentou à cannabis como oportunidade de negócio por sugestão de seu filho.